domingo, 11 de dezembro de 2011

O PAÍS DOS CIRCUNLÓQUIOS

A banda Legião Urbana cantou e decantou em verso e prosa a música: "Que País É Esse". O vocalista diz na primeira estrofe: 
Nas favelas, no Senado
Sujeira para todo lado
Ninguém respeita a Constituição
Mas todos acreditam no futuro da Nação
Que país é esse?
Que país é esse?
Que país é esse?
A voz do inquiridor persiste no tempo e no espaço: que país é esse? O protesto verbalizado na voz de Renato Russo continua ressoando retumbante 'ao som do mar e à luz do céu profundo'. O Brasil precisa de respostas e não apenas de propostas. O Brasil precisa de soluções e não de simulações em teses academicistas que são meras ideologias. O Brasil tem fome e sede de verdade. O Brasil tem urgência de ética e seriedade. Não bastam discursos vazios de realidade, pois palavras são palavras, nada mais que palavras, permita-se o clichê. Não se servem ideologias no almoço e no jantar.
O circunlóquio é uma figura de linguagem na qual o orador foge ao foco central da discussão para assentar praça na periferia dos fatos. Valendo-se de expressões exageradamente retóricas, o falante anda em círculos pelo abuso de múltiplas palavras. Deixa de dizer o que de fato importa, encobrindo, assim, a verdade que a ele não importa. Torna complexo, o que é essencialmente simples.
É recorrente em propagandas institucionais, especialmente na atual governaça, o uso e o abuso dos circunlóquios. Há paralelamente às falas, um forte apelo à camada ótica por meio de imagens bonitas sobre realidades feias. Mostram um Brasil que de fato, só existe para poucos. O telespectador é obrigado a inquirir outra vez: que país é esse? O país que mostram nas propagandas eleitorais, por exemplo, difere substancialmente do país real e conhecido pelos que transitam por suas plagas.
Os circunlóquios começam na educação, pois desde os livros didáticos adotados até as estruturas físicas das escolas, não encontram eco na urgência e necessidade do processo. Em muitas escolas mais se deseduca do que educa, visto que os meios são antagônicos aos fins. A universalização da educação é algo desejado, porém sem ser acompanhada dos instrumentos indispensáveis, não surte os efeitos que se esperam. Ainda que todas as crianças, adolescentes e jovens estejam dentro de uma sala de aula, não há garantias de que estejam recebendo instrução adequada. Os índices internos e externos mostram a realidade, quando comparados a outras nações. Tal processo capenga tem produzido milhões de analfabetos funcionais. A melhor evidência desta triste realidade é a escassez de mão de obra qualificada. Chegou-se ao ponto de as próprias empresas providenciarem a qualificação de pessoas. As universidades sucateadas, mal conseguem expor aulas teóricas.
Os circunlóquios se estendem até a esfera da economia. Mostram índices comparativos por trimestres do ano anterior em relação ao ano em curso. Nada mais falso do que isto! São processos diferentes, em momentos diferentes. É um recurso para evidenciar alguns milésimos de crescimento, quando muito. Todavia, o que importa ao povo é se há casa para morar, gás no botijão, comida para servir, água tratada, esgoto, segurança, e emprego com salário fixo. Expurgam determinados itens da cesta de consumo, visando suavizar a realidade inflacionária que se acelera mês a mês. Assim, quando dizem: "estamos trabalhando para conter a inflação" deveriam de fato dizer: "a inflação está alta e não temos controle dela". Usar de gerundismos para explicar o que é óbvio e ululante, não satisfaz a urgência do cidadão que trabalha e paga elevada carga tributária sem privilégios mínimos.
Então, chega de circunlóquios! O Brasil não pode continuar nos solilóquios!

Nenhum comentário: