domingo, 29 de janeiro de 2012

A FORMAÇÃO DE UM "IDIOTA ÚTIL"

A mente humana é um campo muito fértil, podendo florecer quase tudo que nela se plantar. Dos eixos linguísticos, o associativo, por meio da camada ótica, é o que mais percebe, recebe e internaliza informações. Por informações subentende-se todo tipo de dados e fenômenos que podem ser captados pelos sentidos e armazenados na memória remota. Por exemplo, se você está no interior da sua casa e ouve um helicóptero passando sobre ela, não necessitará ir à janela, ou ao quintal para averiguar visualmente se é mesmo um helicóptero. Simplesmente em algum momento da sua existência esta informação foi captada pelos sentidos, associada a uma imagem formada pelos diferentes canais, e internalizada em sua biblioteca neuronal. Algumas pessoas possuem tal capacidade extremamente aguçada a ponto de aperceber-se de diferentes informações ao mesmo tempo, como também de dar o insight sobre seus conteúdos elaborados. A camada ótica é responsável por cerca de 73% das informações captadas e processadas na memórias imediata e remota. Por esta razão os especialistas em marketing usam tanto as imagens, as cores, a repetitividade, e os movimentos. As pessoas têm verdadeira adoração pelo sucesso, pela fama, pelo que é belo, e que, supostamente, lhes proporcionará bem-estar. É intrínseco à natureza almática do homem o desejo de coisas boas, ao que chamam de felicidade. Quem não gostaria de ter a tranquilidade de morar bem, comer bem, ter laser, frequentar bons restaurantes, teatros, shopings? Quem não gostaria de ter paz, aquela paz fruto de uma segurança de que jamais será assaltado, furtado, roubado, sequestrado, acidentado, e violentada em seus direitos? Quem não gostaria de viver em um país sem miseráveis, sem pobreza, sem desempregados, onde todos pudessem ganhar a vida pelo seu trabalho? Há uma constante inquietação na alma humana por encontrar respostas e soluções a muitos dilemas. Especialmente quando se vive em um país imenso e rico, como é o caso do Brasil.
Vive-se, atualmente, um tempo de muitas lutas: lutas pelo poder, pelo controle da informação, do voto, do fluxo de riqueza. O pior tipo de luta é pelo controle das mentes humanas. Como não é uma tarefa simples, pois o homem é uma unidade complexa e inteligente, usam-se de inumeráveis expedientes para tanto. São métodos antigos e variados ao longo do tempo, e em diversas situações e palcos históricos. Controlar indivíduos, segmentos da sociedade,  setores da produção, lenta e gradativamente, é o primeiro passo para controlar toda a sociedade. 
Alguém já afirmou, muito apropriadamente, que a mentira é a coisa que mais se aproxima da verdade. É fato, pois do contrário, não induziria ninguém a nada, uma vez que seria facilmente rejeitada. Vivemos um tempo em que a mentira está mais disseminada do que em qualquer outro tempo. Ela vem com a sua roupagem de engano, fazendo um verdadeiro estrago nas mentes imediatistas, consumistas e cheias de presunções. Nos últimos 25 anos a sociedade brasileira vem sendo bombardeada vinte e quatro horas por dia, com informações e desinformações.  A grande mídia, escrava das grossas verbas institucionais, está basicamente rendida e vendida. Informam e desinformam ao sabor dos interesses do vil metal.
A subversão ideológica e psicológica consiste em mudar a percepção do homem individualmente, e da sociedade como um todo. O bombardeio, ora de informações, ora de desinformações acaba por provocar uma incapacidade no indivíduo para processar inteligentemente o que se passa. Por confusão mental e preparo subliminar, as pessoas passam a imaginar que tudo é aceitável. Alguns imaginam que, não podendo entender tudo, é melhor confiar no mais óbvio e desejável. Passam a confiar em uma ideologia que os engana e seduz com promessas de felicidade para si, e para todos. A enchente de informações é tão grande que a pessoa se torna incapaz de processá-las, internalizá-las e respondê-las inteligentemente. Não consegue deduzir com a lógica simples e formal. Perdendo o seu self control, da sua família, das instituições, e mesmo da própria lógica da realidade.
Nos anos 40 e 50 as ideologias marxistas-leninistas tentaram controlar o país de modo organizado, mas falharam. Quando os militares tomaram o poder nos anos 60, eles os enfrentaram por meio das estratégias de guerrilha com treinamentos de jovens em Cuba, ex-URSS, e até mesmo na China Maoísta. Perderam a batalha por falta de articulação e de organização. Após o fim do regime militar, passaram a adotar a tática do cognominado 'marxismo cultural'. Por este método inundaram as escolas secundárias, as universidades, e as artes com a "politização" de esquerda numa espécie de lavagem cerebral. Acenam com a beleza de uma sociedade justa e igualitária, produzindo um grande número de "idiotas úteis"[Полезный идиот], nos dizeres de Vladimir U. Lênin. Este exército de iludidos se torna absolutamente alienado em uma nova utopia, pensando e reagindo a certos estímulos pré-inoculados neles pela repetitividade das ideias com nomes bonitos. Quando conseguem ajudar a instalar o novo sistema, e observam que não tem nada de novo e que são ditatoriais, abusivos, centralizadores e manipuladores, tanto quanto o sistema anterior, se desiludem e se tornam os piores inimigos. Aí são levados ao ostracismo, ou executados em paredões como qualquer outro idiota.

quarta-feira, 25 de janeiro de 2012

A TRANSMUTAÇÃO DA VERDADE EM MENTIRA

Transmutação é um substantivo feminino que, em genética, quer dizer a formação de uma nova espécie por meio do acúmulo progressivo de mutações na espécie original. Transpondo esta ideia aos fenômenos social, político, e econômico, pode-se dizer que as ideologias sempre estão em mutação. Até então, normal, pois é da natureza do universo a constante transformação. Todavia, quando está em vista a transmutação, tal fenômeno provoca, não apenas, uma mudança de diretrizes, mas a mudança na própria matriz. Uma vez a matriz alterada tem-se uma total mudança do que estava posto e conhecido. Não é mais a mesma ordem vigente e aceita como válida. O mundo é um palco de constantes mutações, sejam elas para bem, sejam para mal. O fato é que seus atores, devem ter plena consciência do que tais mutações irão representar em suas posições e em seus pressupostos. Sabe-se, no entanto, que estes processos são lentos, gradativos, e, por vezes, imperceptíveis. Nunca se tem uma transmutação pura, absoluta, e instantânea. Não é da natureza humana a unanimidade em processos de mudanças. O novo sempre vem, é verdade, mas em contrapartida ele sempre terá oposição. Também é da natureza humana se opor ao novo. 
A subversão é utilizada para implantar as mutações, e, posteriormente, chegar-se às transmutações. Por subversão se entende um processo de insubordinação contra as autoridades, as leis, e a ordem vigente. Trata-se de um conjunto de ações sistemáticas realizadas por elementos internos, visando minar e destruir um sistema político, social, e econômico. Tomam as contradições existentes, por exemplo, na religião e as expõem ao ridículo. Denunciam bombasticamente os erros dos agentes públicos do judiciário, do executivo, e do legislativo. Infiltram-se promotores de comportamentos contraditórios nas forças militares e de segurança, os quais promovem delitos, crimes, abusos, e imperícias. Mostram as fraquezas das organizações partidárias, e criam conflitos entre as classes sociais, especialmente entre os trabalhadores e a patronal. 
Paralelamente, e paulatinamente a grande mídia se rende aos apelos da subversão, porque depende dos milhões gastos em propagandas institucionais. Surgem diversas organizações paralelas ao poder constituído para tomar as decisões pela sociedade. A cada dia a sociedade organizada cede o seu lugar a pequenas organizações não oficiais. As escolas são transformadas em cátedras de alienação por meio de livros e cartilhas de doutrinamento. As novas gerações são deseducadas e transformadas em "focas amestradas" que reproduzem os discursos alheios sem examiná-los. Falam contra o preconceito, mas são mestres em emitir conceitos, sem conhecer as causas determinantes dos fatores. Exigem todos os direitos, mas não cumprem obrigações. É uma juventude sem contrapartidas, mimada, e autoritária.
A transmutação acontece quando a sociedade se torna inerte e incapaz de pensar e agir em conjunto contra a subversão dos valores. Neste ponto aparecem os subversivos oferecendo um novo modelo. Apresentam-se como os únicos salvadores da pátria e capazes de instaurar a ordem e o progresso. Neste mesmo momento aparecem os políticos profissionais oferecendo os seus projetos de leis para garantir as mudanças necessárias. Usam incansavelmente dos mesmos clichês e palavrinhas mágicas: justiça social, democracia, políticas públicas, avanços sociais, direitos humanos, modernidade, ações positivas, etc. Estas palavras têm o dom de hipnotizar as pessoas, sobretudo as mais carentes e necessitadas. A partir deste ponto surgem as primeiras reações entre classes sociais diferentes, instalando-se uma velada luta de classes. O pobre atribui à sua pobreza a acumulação de riqueza dos ricos. Os ricos afirmam que o problema é dos pobres que são desorganizados, imprudentes, preguiçosos, e revoltados. 
Uma vez instalados todos os tipos de antagonismos no seio da sociedade o clima está pronto para surgir o "Sassá Mutema", a saber, o mítico salvador das massas oprimidas e injustiçadas. Logo aparece a imprensa indicando o caminho, induzindo o que é certo, polarizando em torno de um nome preestabelecido. Uma nova ordem é imposta por meios aparentemente democráticos. Em seguida começam as queimas de arquivos, os descartes dos que sabem demais. Pessoas são acusadas, presas, banidas, e mortas em nome da nova ordem instalada. Assim, inicia-se um novo ciclo que em nada mudará a realidade transmutada. Apenas substituem corruptos, por corruptíveis. Assim, a verdade é o que é real e está posto diante do homem, e a mentira é o homem dizer que pode oferecer outra realidade melhor.
Por esta razão é que a única revolução possível e capaz de fazer algo significativo é a revolução do ser. Enquanto não houver alterações na natureza humana, é perda de tempo substituir os sistemas, regimes e modos de produção. A história da humanidade tem mostrado isto claramente. Os impérios se sucedem e os erros são sempre os mesmos!

quarta-feira, 11 de janeiro de 2012

O ESTUPRO DA CONSTITUIÇÃO II

Ambiguidade é um substantivo feminino que significa, em linguística,   diversas unidades, tais como, morfemas, palavras, locuções, e frases, admitindo sentidos diversos. Por admitir mais de uma leitura, então responde pela sua real aplicação, o contexto em que aparece, ou mesmo o juízo que o leitor fizer da mesma. Assim, o título deste artigo poderá se enquadrar em caso de ambiguidade, visto que permite ser lido que a Constituição foi estuprada ou que a Constituição pratica o estupro. Como não há intencionalidade, neste caso, de valer-se da norma culta para deixar clara uma única possibilidade de leitura, resta, portanto, a leitura que cada um conseguir fazer. Abstraindo-se o que se deve abstrair é mister que se verifiquem certos textos, em seus contextos, sem pretexto a fim de que se faça a leitura cabível. 
Ao analisar a Constituição da República Federativa do Brasil, notadamente a que foi produzida pela Assembléia Nacional Constituinte de 1988, veem-se diversos aspectos emblemáticos na sua redação. A começar pelo preâmbulo onde se pode ver algumas colocações, no mínimo, contraditórias para não dizer que são sem o menor propósito. Sabe-se, ainda, que o preâmbulo da Constituição não se constitui em norma central, e, portanto, não tem força normativa. Todavia, o tal preâmbulo é colocado em epígrafe, justamente porque é acatado como conteúdo sintético dos valores que norteiam a referida Constituição. 
Lê-se no preâmbulo, as seguintes afirmações: "Nós, representantes do povo brasileiro, reunidos em Assembléia Nacional Constituinte para instituir um Estado Democrático, destinado a assegurar o exercício dos direitos sociais e individuais, a liberdade, a segurança, o bem-estar, o desenvolvimento, a igualdade e a justiça como valores supremos de uma sociedade fraterna, pluralista e sem preconceitos, fundada na harmonia social e comprometida, na ordem interna e internacional, com a solução pacífica das controvérsias, promulgamos, sob a proteção de Deus, a seguinte CONSTITUIÇÃO DA REPÚBLICA FEDERATIVA DO BRASIL."
O verbo "assegurar" utilizado no contexto preambulatório é, no mínimo, desajuizado, posto que exige, não apenas, a afirmação, mas também os meios e os resultados das premissas a que rege. O Estado não tem assegurado os direitos sociais e individuais em sua significação democrática, pois nem todos têm acesso aos tais direitos. A liberdade, a segurança, o bem-estar, o desenvolvimento, a igualdade e a justiça não são distribuídos democraticamente. Por democrático entende-se que o Estado responde em perfeita isonomia os mesmos direitos dos cidadãos, independentemente das suas condições socioeconômicas. 
Igualmente, o texto do preâmbulo afirma que o Brasil é uma "sociedade fraterna, pluralista e sem preconceitos." Nem por força de mágica, ou de fé, se pode afirmar, ou mesmo, assegurar esta afirmação. Fraterno é um termo que nos remete à ideia de irmandade, onde todos se amam e se respeitam igualmente, apesar das diferenças. O pluralismo é um fato incontestável, pois o próprio processo histórico se encarregou de produzi-lo. Acrescenta-se que há diversas categorias de pluralidade: étnica, religiosa, econômica, cultural, política, filosófica. Os preconceitos, a saber, quando se tem um conceito antes de ter conhecimento de causa, são os mais conhecidos da sociedade brasileira. Todos os dias são denunciadas atitudes preconceituosas de todos os níveis na mídia. Isto sem contar aquelas pessoas que são vítimas silenciosas que não denunciam por medo, ou por não ter informação, ou ainda por achar que não está sendo atingida em sua integridade.
Finalmente, o dito preâmbulo, invoca a proteção de Deus para a promulgação da Constituição. Ora, como pode um conjunto de representantes inserir tal afirmação em uma Carta Magna, ou Lei Maior, quando a mesma se destina à regulação de um Estado laico? Além do mais é muito temerário invocar o nome de Deus para proteger representantes de diversos matizes, incluindo-se os ateus professos e não-professos. 
Não se pode forcejar Deus a proteger uma Constituição destinada a uma sociedade permeada de injustiças, desmandos, desgovernos, corrupção, desigualdades e arbitrária com a coisa pública, como é o caso do Brasil. Deve-se, no mínimo, não envolver Deus nesta trama sórdida, para não correr o risco d'Ele reivindicar a sua justiça. Muito pelo contrário, deveriam ter imenso temor de invocar Deus na proteção de um país onde se faz barganha com o voto que deveria ser livre, posto que arroga-se ser um Estado Democrático de Direito.

Quando eu sou o sujeito que escreve

De todos os verbos que conjugo todos os dias e de todos os atos que pratico por rotina, "escrever" é o que mais me intriga, e o que mais me consome.
Porque quando eu me sinto, debruçada por sobre uma folha de papel com todos essas linhas vazias, eu sou o sujeito que pratica a ação, e, de um jeito ou de outro, sou também o que sofre a mesma.
Cansando o lápis com símbolos que chamam de letras, feitos para formar palavras, que por sua vez formarão frases. Mas acontece que o sentido, a coerência e o contexto, são todos por minha conta e risco.
Seja minha voz ativa, passiva ou reflexiva, cabe a mim não perder o enredo. Escolher o jeito certo para dar o começo, persistir fielmente e não pecar pelo desfecho.
Na primeira pessoa, eu faço, mas na segunda e na terceira também não há diálogo sem mim. Seja eu narradora, uma multidão inteira, homem ou mulher ou apenas espectadora .
Escrevendo minha personalidade é anulada, e como que num passe de mágica, é transferida para um conto, uma história, um crônico acontecimento, que, fora desse texto, nem pareceria merecedor de tamanha importância.
É isso que venho feito nos últimos anos, mais que nunca nos últimos meses. Pegar o simples e enfeitá-lo, mostrar que muitas vezes o detalhe mais bobo que passa despercebido, pode ser o clímax, pode ser a peça que falta para dar sentido.
Porque ao contrário do que acham por aí, nós não somos máquinas. E as experiências por quais passamos diariamente tem lá o seu valor.
É impossível ser sempre igual, sempre o mesmo, sempre perfeito, e até o erro de repente pode ser algo que se valha passar a diante.Tudo depende do modo como se conta a coisa toda, como mostrar a alguém que o "normal" esconde milhares de motivos pra ser engraçado, pra ser bonito, e pra deixar uma mensagem.
E quanto a mim, nesse papel que assumi por distração e por instinto, pois escrever é ainda mais que meu maior vício, é uma paixão sincera disfarçada de capricho.
Nem sempre sou feliz em todas as minhas conotações e nos meus comentários, apenas falo o que penso, e, que me desculpe a gramática, mas pra mim, pensar é um verbo indefinido.

A Passageira

Ela vai de trem, volta de avião, a estação é a sua casa, a estrada o seu chão. Ama a vida que tem, ama tanto que odeia, sem pesar vai-se embora, mais uma vez, a passageira.
Guarda o mundo dentro de seus olhinhos escuros,um pouco grande do mundo que pôde recolher, Mata Atlântica, Amazônia, Cerrado, Caatinga e Pantanal, todo um pouco de Brasil carrega, se vale e faz sentir saudades.
A pequenina mulher com uma mala nas mãos e uma mochila nas costas,o peso de errar sem paradeiro e nem prazo pré estabelecido, ela aprendeu a não ter medo do desconhecido, e conheceu a falta que sente e a falta que faz sentir.
A jaqueta marrom de couro carrega no braço, caso vá esfriar, veste a fina regata bordada e a calça jeans folgada, não sabe como o tempo estará.
Junta todos os seus detalhes, seus pesares, suas dores, reúne todos seus olhares, suas cismas e amores. E vai. Vai como na primeira vez, vai desconfiando internamente de que não será a ultima.
Ela deixa pegadas à sua maneira, discreta demais pra cravar marcas,forte demais pra passar sem deixar seus sinais.
Fala coisas sobre as gentes diferentes do que a gente é, ninguém é igual, ela se permite ser interlocutora da diferença.
Conta casos de viajantes solitários e histórias pra dormir que aconteceram de verdade, cita nomes, apesar de esquecer um ou outro, afinal, foram tantos. Mas nunca esquece de fazer com que se viva a sua lembrança narrada em viva voz.
O tempo que compete com ela já alcançou singelamente as suas formas, deixou mais brancos os seus cabelos, traçou linhas leves sobre sua face. Mas ela não demonstra o seu tão grande cansaço, ela ainda é linda quando sorri, é perfeita quando é o que nasceu pra ser.
Por isso ela tem que partir, tem que aceitar, vai ter que se encantar com outros cantos, se apaixonar por outro lugar.
Deixou seu coração com outro alguém pra não perder o senso de direção nem a coragem, com as passagem marcada de ida ela se prepara para viajar, sem datas marcadas ou promessas precisas,mas ela vai voltar.
Vai voltar porque é esse o seu destino, vai voltar por não ter porque lá ficar, e além disso apesar de não ter mais coração, ela ainda sabe o que amar.

certo por réguas tortas

Todo mundo tem uma história pra contar, um quase desastre que virou piada, uma vitória de supetão que virou lembrança.
Pois veja que realmente esses "erros’’ e trapalhadas são fundamentais para a descoberta de coisas boas. Se Cabral não tivesse errado a rota, tinha perdido a oportunidade de conhecer esse paraíso que é o Brasil, por exemplo.
Uma amizade que prezo muito começou assim. Estava na papelaria ajudando uma amiga a comprar os materiais escolares para o começo das aulas, e estavam lá também dois garotos que nós nunca tínhamos visto na vida, lembro que até comentamos isso uma com a outra.
E, na hora de pagar, eu peguei por engano a régua de um dos moços. O mais velho olhou pra mim e falou: _ ei, acho que isso aí é meu. _ Fiquei com tanta vergonha na hora que nem pedi desculpas, devolvi a régua e sai correndo da loja, morrendo de rir e esperando minha amiga do lado de fora.
Pra minha surpresa, logo descobri que um dos garotos não apenas estudava na mesma escola, como na mesma sala que eu, e logo atrás de mim, e o outro, eu ainda iria ver muitas vezes.
Mas hoje a gente acha graça, foi o primeiro assunto que tivemos e que deu oportunidade pras longas e divertidas conversas que vieram depois. Por isso é que costumo dizer, que ás vezes é realmente necessário dar aquele "empurrãozinho" básico no destino, pra que as coisas boas realmente possam acontecer.
Não estou dizendo que o certo seja jogar tudo pro alto ou sair se arriscando por aí sem mais nem menos, longe de mim. Mas testar a sorte de vez em quando, não faz mal a ninguém. Se todo mundo pensasse nas minúsculas chances de ganhar na loteria, ninguém jogaria, e consequentemente, ninguém ganharia.
As coisas não caem do céu, não sem um esforçozinho vindo da nossa parte. Conheço a história de uma mulher que queria arranjar marido, já tinha feito de tudo, e nunca dava certo, um dia, revoltada da vida, jogou o Santo Antonio pela janela, que foi cair justamente na cabeça do seu futuro marido.
Nem sempre vai dar certo, é claro, e acho que é demais querer que todos concordem que a decepção vale a tentativa. Mas pra mim ao menos , vale mesmo. Antes tentar e não conseguir do que ter que conviver com a dúvida por nunca ter tentado. Na minha opinião Deus escreve certo, por "réguas" tortas .

quarta-feira, 4 de janeiro de 2012

ARGUMENTOS E CONTRA-ARGUMENTOS

Uma das características da natureza comportamental do homem é a reação contra qualquer coisa que se oponha à ordem vigente. O  medo da mudança traz no seu bojo, o medo da perda. Por isso, quase sempre a mudança vem acompanhada de uma sensação de subversão da ordem. No próprio modelo dito dialético é assim, contra a tese, vem a antítese, e o resultado é a síntese que se constitui numa nova tese e assim ad infinitum. Toda vez que se estabelece um grupo e alguém se levanta para propor algo que subverterá a ordem vigente, logo surgem as ideias contrárias. Isto é normal, e salutar, pois, conforme Nelson Rodrigues, "toda unanimidade é burra." Claro, não é da natureza humana a concordância e a discordância absoluta. Caso houvesse, tanto uma, como a outra, algo estaria errado, pois estaria indo de encontro à normalidade divergente do homem. Pois bem, a despeito do reconhecimento desta idiossincrasia, avanços e retrocessos são o resultante desta realidade. A construção da história humana é a evidência deses fatos. 
Recentemente foi colocado diante do povo do estado do Pará uma consulta à opinião pública por meio do mecanismo do plebiscito. Naquele 11 de dezembro de 2011, o povo paraense, aqui usando este patrônimo por força de que se trata de uma unidade da federação, optou pela não criação de dois novos estados: o Carajás e o Tapajós. Está tudo dentro da legalidade prevista na Constituição Federal, e no ordenamento jurídico atinente a esta questão, em nível federal e estadual. Nada fora dos parâmetros legais, não é esta a discussão. Entretanto, tal resultado provocou o despertamento dos cidadãos destas regiões emancipacionistas. Evita-se aqui o termo separatistas, porque este teria um teor um tanto dúbio. O fato é que se de um lado os paraenses da região Nordeste do estado, especialmente da Grande Belém, optaram pela não-emancipação, por outro lado, os habitantes do Carajás e do Tapajós cuja votação pela emancipação foi expressiva, despertaram para a sua dura realidade de abandono socioeconômico.
É deste contexto do despertar de uma verdade há muito adormecida, que surgem argumentos de ambos os lados. Por exemplo, alguns que optaram pela não emancipação, dizem que seria uma mutilação do estado que é uma unidade federada desde a formação histórica do Brasil; outros dizem que seria um aumento vertiginoso de gastos para o erário público na construção da estrutura e infra-estrutura político administrativa; outros ainda dizem que aumentaria o número de políticos, e, consequentemente aumentariam os gastos para mantê-los. Entre outros argumentos, estes são destacáveis como de maior popularidade e aceitação.
Todavia, contra-argumenta-se, valendo-se de fatos reais na história recente do país. Após o fim do regime militar surgiu uma nova Constituição Federal em 1988, a qual trazia em seu corolário a previsão do instituto do plebiscito para tratar de assuntos de grande relevância para a República Federativa do Brasil. Dentre os dispositivos previa-se a possibilidade de integração, divisão, e anexação de territórios federados. Os primeiros a serem divididos foram o Mato Grosso e o Tocantins. Naquela época os argumentos eram basicamente os mesmos de hoje. A emancipação foi aprovada e o tempo se encarregou de mostrar os equívocos. Hoje tais estados, MS, MT e TO são prósperos, obviamente de acordo com o modelo de desenvolvimento predominante. Também os antigos Territórios Federais de RO, RR, e AP foram transformados em estados da federação. Os mesmos argumentos foram usados, mas comparando-se as duas realidades, estão bem melhores hoje. Ainda o território Federal de Fernando de Noronha foi anexado ao estado de Pernambuco por questões de segurança nacional. Hoje é uma área de reserva ambiental especial em pleno oceano Atlântico.
Conclui-se que as divisões de algumas unidades federadas que ainda estão pendentes não fugirão à esta regra. A questão é: há interesses difusos e confusos nesta questão específica do Carajás e do Tapajós. Talvez por suas localizações e seus potenciais econômicos. 
Veremos quando chegar a vez de Minas Gerais.