sábado, 10 de maio de 2008

O Estupro da Constituição I

Por definição, estupro é o ato pelo qual se consegue, por meio de constrangimento e violação, forçar alguém a manter relações sexuais contra a sua vontade. Por extensão de sentido estuprar é o forçamento, pelo emprego da violência, a qualquer situação que venha ferir a integridade da pessoa, dos seus direitos, da sua propriedade e da lei.
O direito à propriedade é consagrado na Constituição Federal em seu artigo 5º, sendo que no seu inciso XXII reza, "é garantido o direito de propriedade." Este direito envolve toda e qualquer propriedade, incluindo-se a rural e a urbana. No mesmo artigo, inciso XII, lê-se que, "a casa é asilo inviolável do indivíduo, ninguém nela podendo penetrar sem consentimento do morador, salvo caso de flagrante delito ou desastre, ou para prestar socorro, ou, durante o dia, por determinação judicial."
Os incisos XXIII, XXIV e XXV do art. 5º dispõem sobre casos excepcionais acerca da propriedade, entretanto mantêm todas as garantias legais aos seus proprietários. Em nenhum momento a Lei Magna dá o direito à violação da propriedade privada sob quaisquer alegações.
Antes de entrar no mérito da questão do estupro da Constituição que se vê nestes tempos, deve-se fazer uma panorâmica das últimas três ou quatro décadas. Isto é necessário, para que se coloque as coisas no devido lugar e se entenda o caminho que o país está trilhando. Também porque as novas gerações não viveram muitos dos fatos determinantes dos atuais acontecimentos.
Após o retorno aos governos civis verificou-se uma rápida evolução para uma espécie de abrandamento das normas jurídicas. Todo este embrólio mal versado foi, e está sendo elaborado com base no argumento que há uma realidade socioeconômica muito díspare no Brasil. De fato há muitas desigualdades e distorções perversas no seio do sistema produtivo nacional. É justo, pois, que se faça melhor distribuição e uso desta riqueza. Não é admissível que, em um país imenso e bem-dotado de recursos naturais, um único brasileiro seja privado de comer, morar, trabalhar, estudar, ter saúde, se divertir, etc. Isto ainda persiste, não por escassez de riquezas, mas por negligência dos governantes, por má gestão da coisa pública ao longo do tempo.
Neste processo histórico, finalmente chegaram ao poder os órfãos da ideologia marxista. Eles ficaram no meio do caminho, quando o movimento dialético da história fundado na "Guerra Fria" os interrompeu. Os movimentos eclesiais de base e outros movimentos camponeses dos anos 50 foram cessados em sua forma original. Deste contexto surgiram células clandestinas, movimentos salvacionistas, guerrilhas e sublevações estudantis, sequestros, assaltos a bancos e toda sorte de bandidagem em nome da democracia.
Nos anos 90, com o fim da bipolaridade entre capitalismo e socialismo, bem como com o fim vergonhoso do modelo de produção planificada na matriz soviética, eles começaram a chegar ao poder. Após o fim do regime militar e com o refino da anistia, os exilados e auto-exilados voltam ao Brasil. Eles reaparecem em cena, com seus cabelos grisalhos e cheios de rancores. Utilizam-se do pleno estado de direito e da liberdade de expressão, tornam-se candidatos e se elegem como únicas vítimas do sistema. Alguns, sequer foram perseguidos, presos ou torturados, mas adotaram um discurso único, a fim de sensibilizar o povo desinformado. Outros, sairam do Brasil, para estudar de graça pela CEPAL em Paris. Outros ainda, subprodutos da ala esquerdista da igreja dominante, iam pra a frente das fábricas com a habitual truculência, a fim de se projetar politicamente.
Ainda havia os esquerdofrênicos de buteco, isto é, esquerdopatas da classe média que compunham suas músicas e falavam bem de Cuba, enquanto o povo cubano sofria e ainda sofre debaixo do tacão de uma ferrenha ditadura. Quando iam a Cuba, frequentavam apenas o circuito politicamente preparado para eles. Viam só o que interessava aos desinformatas cubanos mostrar. Eram, como que, embaixadores do paradiso caribenho aos ouvidos dos pseudo-intelectuais brasileiros que se punham a cantar e decantar em verso e prosa o sistema castrista. Como pode alguém combater uma ditadura, para implantar outra?
Alguns desses "esquedistas escoceses", nunca trabalharam na vida. Viveram toda a sua juventude e maturidade destilando seus uisques nos bares da Lapa, Copacabana, Leblon, Farol e tantos outros pontos deste imenso pais.
Agora, sabe-se que todos estes esquerdóides são feitos da mesma matéria dos seus desafetos de direita. Se não torturam nas masmorras e porões, torturam por meio de um discurso mentiroso que promete reinaugurar o que já nasceu falido. Enquanto o mundo está abandonando e fugindo do modelo marxista, eles ainda sonham com uma América Latina revolucionária e libertária. Coitados, não sabem que não são as ideologias, os regimes, as formas de governos, os sistemas de governos que são bons ou ruins, mas sim, o homem que é um ser depravado e perverso sob quaisquer ideologias. Torturam com suas promessas falazes e seus discursos sofismáticos recheados de cinismo e dissimulação. Conseguem fazer da verdade uma mentira e da mentira uma verdade conforme seus discursos vazios de forma e conteúdo.
Usam falsos movimentos sociais e os pobres como "cães de guerra" para desequilibrar as instituições, estuprar a Constituição Federal, desestabilizar os poderes, corromper todos e tudo a fim de que se instale o caos. Utilizam a ingenuidade, "pero no mucho", dos indígenas, a fim de redesenhar as fronteiras norte como parte de um plano sinistro. Lançam mão de sistemas de cotas para negros, indígenas e estudantes de escolas públicas, disfarçando a escassez de competência e de habilidade em adotar uma política educacional duradoura, eficiente e eficaz. Isto só tem conseguido dividir brasileiros e criar tensões sociais.

sábado, 1 de março de 2008

A Cleptocracia Neófita e Deslumbrada

A palavra Cleptocracia, é originariamente grega, significando ipsis literis,governo de ladrões”.
A cleptocracia ocorre quando o Estado de Direito é suprimido por um poder discricionário de pessoas que chegaram ao poder político nos diversos níveis, conseguindo transfomá-lo em uma espécie de moeda de troca ou coisa venal, por diversos modos e formas. Nestes casos, e por vezes, se consegue dar certo grau de legitimidade à subtração de valores e recursos por meio dos meandros de leis não discutidas e não debatidas ampla e exaustivamente. Basta conseguir uma maioria parlamentar artificializada e comprada, para com isso, aprovar e multiplicar leis que favoreçam à Cleptocracia instalada. Muitos são os arranjos e rearranjos possíveis para dar aparente legitimidade ao que se quer nestes Estados assaltados por cleptocratas.
O Estado cleptocrático, como ente jurídico-político passa a funcionar como uma máquina de fazer dinheiro e gerar riqueza pessoal ou corporativa. Su
btraem-se os recursos financeiros da grande massa humana alienada. A população que trabalha e produz passa a ser vista como a "galinha dos ovos de ouro", satisfazendo, assim, ao apetite voraz dos gestores cleptomânicos. Tudo é feito em nome de políticas sociais, de distribuição de renda, de inclusividade social e de correção das distorções da iníqua política de dominação de ricos sobre pobres. Estas palavras mágicas ou frases de efeito, ainda que legítimas no mérito, são ilegítimas nos usos, nos meios e nos fins. O Estado de direito passa gradativamente de tutor da sociedade a uma espécie de gazofilácio do poder cleptocrático. Contrapõe-se à sua função de arrecadador de renda legal, por meio da cobrança de tributos, taxas e impostos, a doador fortuito às contas secretas de cleptomaníacos. Os poderes cleptocráticos são sempre muito eficientes para arrecadar, porém absolutamente inéptos e morosos na solução das reais necessidades humanas. Gastam muito, gostam de gastar e gastam consigo mesmos com mais entusiasmo do que com os necessitados.
Há sempre, e por decurso de tempo, a inclinação de os Estados tenderem a se tornar “cleptocracias absolutistas” pela ausência de combate real, consciente e organizado por parte dos seus cidadãos e por consentimento mútuo entre os cleptocratas e os seus parceiros.
Em economia real, a capacidade de os cidadãos combaterem a instauração do Estado cleptocrático está diretamente relacionada ao poder da sociedade portadora do capital social. Segundo Francis Fukuyama, Robert Putnam e Patrick Hunout, o capital social é uma referência ao conjunto de normas capazes de promover e manter confiança e reciprocidade na economia de uma sociedade. O capital social constitui-se de redes, organizações civis e do compartilhamento da confiança de certos segmentos da sociedade em franca interação. Passa obrigatoriamente pela compreensão da natureza das interações e do funcionamento das chamadas comunidades de práticas.
O estágio “cleptocrático” de qualquer Estado ocorre, essencialmente, quando a maior parte do sistema de gestão pública governamental é dominado por corruptores e por corrompidos politicamente
. É tipicamente um vício do poder duradouro e sem pressões das forças organizadas. Estas forças tendem, evidentemente, a se dar à frouxidão se partilham do poder cleptocrático. Quando elas estão na oposição, se gabam de serem os fiéis depositários da dignidade e da honestidade. Assim, há um conluio organizado e escorregadio diligentemente preparado para pronunciar o discurso de cartola a fim de dissimular a verdade. São "experts" em transtornar a verdade em mentira e a mentira em verdade por inversão de falas. Manipulam as massas por meio de artifícios e ludibriam os incautos por meio de apelos politicamente corretos. Eles escolhem alguns para serem seus inocentes úteis e, assim, passam a idéia de que o Estado está muito forte, organizado e vigilante. Enquanto as instituições centenárias se enfraquecem, eles discusam sobre quaisquer palanques encomendados para comover os deslumbrados.
O pior tipo de cleptomaníaco é o neófito, porque o deslumbramento da primeira vez,o faz pensar que é mais hábil e mais esperto do que os cleptomaníacos que o antecederam. Assim, ele entra com muita sede e se lambuza até se submergir em seu próprio visgo.
Asssim, se cumpre a falsa pronúncia do "nunca antes, na história desse país" se praticou tanto o "dando que se recebe". Ainda mais quando o "tudo pelo pessoal" dos ans 80 está aliado e solidário ao poder cleptocrático neófito.

A Oclocracia Instalada

Oclocracia provém do grego 'okhlos', que significa 'multidão, plebe' e 'kratos', que singinifica 'domínio, poder', não é, necessariamente, uma forma de governo, mas apenas uma crise instaurada nas instituições em função da ação irracível das multidões. Neste sentido, oclocracia indica uma espécie de opressão imposta pelas turbas ao poder legítimo e às leis, fazendo valer os seus intentos, interesses e caprichos colocados acima de quaisquer determinações do direito positivado.
A Oclocracia também se define como sendo o abuso que se instala em um governo democrático, quando a multidão se assenhoria da coisa pública.
Na visão clássica de Aristóteles, a Oclocracia é um dos três tipos específicos de degeneração das formas puras de governo, notadamente da Democracia .
Se os conceitos e definições não escapam ao senso, à percepção e à apreensão da cultura ocidental posta estamos, no Brasil, diante de um caso típico de Oclocracia instalada. Senão, vejamos! Quem hoje neste país se sente seguro em relação à propriedade rural ou urbana? Quem se sente seguro em relção à estabilidade econômica artificializada e maquiada por atores agenciados pelo Estado e colocados quase que a força nos postos estratégicos do planejamento e gestão pública? Quem se sente seguro ao sair de casa, seja para o trbalho, seja para o laser? Quem dá credibilidade no que a grande mídia escreve ou fala? Quem se sente seguro na defesa das fronteiras, no caso de um confronto pela Amazônia? Quem se sente absolutamente confiante ao comprar uma passagem aérea para vôos doméstics ou internacionais? Quem pode sentir completamente seguro em relação ao sigilo dos seus dados e informações pessoais, fiscais e bancários neste ponto da nossa história comum?
O país foi tomado de assalto e de sobressalto ao ver este ou aquele servidor público estender a mão para tomar das mãos de um corruptor, ou do seu preposto, um pacote de dinheiro diante de câmera oculta por mero industriamento sórdido. De igual modo, o país ficou perpassado ao ver o desenrolar dos valeriodutos e dos mensaleiros assaltando os bolsos dos contribuintes.
Como se pode acreditar que um determinado governo possa administrar o Estado de modo equânime, quando a intencionalidade é fazer clienteslismo com a coisa pública? Clientelismo, fisiologismo e outras aberrações da gestão pública no Brasil, joga o país na canaleta da oclocracia, visto que o Estado, na pessoa dos gestores maiores, premia as turbas menos favorecidas com políticas essencialmente populistas. Tal situação cria, na realidade, na mentalidade das camadas mais pobres, a idéia de que só têm direitos, mas nunca deveres. Insinua de modo velado ou ostensivo a noção de que todos os ricos, o são, porque roubaram os pobres. Assim, o Estado, na pessoa de alguns gestores, instala por conta própria a tensão social e instiga a luta de classes. Qual será o projeto? Com que objetivo? Para que?
Esta postura demodê, tem muito do bolchevismo do famigerado modelo do socialismo real instalado na Rússia de 1917. Não bastasse ser anacrônico, é também, e, principalmente estúpido, pois provou-se ineficiente em todas as socieades onde foi instalado e instaurado.
Toda vez que o poder central se vê ameaçado de ser posto em cheque, o gestor principal, se põe em campo e sob quaisquer pretextos usa do discurso emocional, a fim de comover as massas manobradas e manobristas. Esta é a psicologia oclocrática colocada em marcha neste país, por uma corja que só pensa em se dar bem a custa do dinheiro dos outros e do que foi construído pelo que consideram abominável.
Esta não é uma tese fortuita, mas uma constatação perceptível, visto que o oclocrata chefe, se pôs em autodefesa, por conta do escândalo dos cartões corporativos. Nestes momentos em que o seu projeto sinistro fica em descoberto, logo se põe a atacar a mídia, como também, as não-pouco atacadas "elites" e o grande capital. Como se não bastasse a disparada da metralhadora da mediocridade e falta de luz própria, ataca os outros poderes da República, como se viu nesta semana. Não fosse pouco o vexame da verborréia esquerdofrênica, o uso das palavras de baixo calão, como é próprio dos incompetentes apanhados em suas prevaricações e improbidades, também a desestabilização das instituições guardiãs do pacto federativo republicano.
Mas, como foram as "elites", os intelectuais e a imprensa imediatista e gananciosa que colocaram estes gestores no poder, que os mesmos se encarreguem de combater e abater a oclocracia deste mesmo poder.
"Nunca na história deste país" se viu tanta falta do uso da inteligência!

sábado, 23 de fevereiro de 2008

Dekasseguis, O Retorno Às Origens I

Há exatos 100 anos atrás aportava nas plagas brasileiras, o Kasato Maru, trazendo em sua nave os primeiros migrantes nipônicos. Naquele tempo, a "Terra do Sol Nascente" não conseguia mais alimentar e satisfazer os desejos de todos os seus filhos.
Partindo, principalmente de Hiroshima, no ano de 1908 saiu o primeiro grupo, cerca de 781 emigrantes. Primeiro foi o navio Kasato Maru que aportou em Santos, São Paulo, a 18 de junho, sendo seguido do Ryojun Maru, a 28 de junho de 1910, trazendo 906 passageiros. Com eles, sonhos, esperanças, costumes e tradições. Seguiram-se outras tantas naos repletas de japoneses até a década de 1930, quando Getúlio Vargas criou leis de restrição à imigrção.
Inicialmente a causa da migração foi a ruptura do modelo feudal japonês e o início da industrialização e da urbanização. A população tipicamente rural passou a ser urbana e, por isso, surgiram grandes focos de pobreza. A mecanização da lavoura pressionou a população rural a mudar para as cidades que não comportavam a grande massa do êxodo rual. No Brasil, ao contrário, faltava mão-de-obra para trabalhar nos cafezais. Assim, um acordo entre Brasil e Japão permitiu a imigração de nipônicos para cá. Seguiram-se as duas grandes guerras mundiais, das quais o Japão participara ativamente, pressionando, cada vez mais, um maior número de migrantes para o Brasil.
Cerca de 1,5 milhões de japoneses migraram para o Brasil, sendo o período áureo, do ano de 1920 ao ano de 1930. Há diversos componentes determinantes do processo de migração japonesa. Havia grande pressão social, imensa saturação das cidades, elevado contingente de trabalhadores rurais desempregados e forte interesse do governo japonês em espalhar a etnia nipônica para o mundo, especialmente com vistas à fixação desta nas Américas. Este último elemento ideológico causou, inclusive, muita perseguição aos japoneses no Brasil e, mais tarde, nos Estados Unidos.
Com os migrantes orientais vieram muitas coisas, como por exemplo, o costume do uso do chá, o cultivo de determinadas frutas não conhecidas, verduras, legumes, criação do bicho-da-seda, etc. Surgiram novas técnicas de cultivo do arroz, influência idiomática, hábitos alimentares, entre outros.
Compreende-se melhor o migrante japonês por suas gerações. Assim, denomina-se de 'isseis' os imigrantes japoneses nascidos no Japão, representando cerca de 12,51%; os 'nisseis', filhos de japoneses, porém nascidos no Brasil com cerca de 30,85%; os 'sansseis', netos de japoneses, com 41,33%; e os 'yonisseis', bisnetos de japoneses, constituindo-se em 12,95%. Da totalidade de migrantes nipônicos, cerca de 90% vive em cidades. Estão espalhados, principalmente nos estados de São Paulo, Paraná, Mato Grosso do Sul e Pará. Dedicam-se hoje, a diversas áreas da atividade econômica, social e cultural.
O japonês oferece grande resistência à miscigenação, especialmente aqueles das primeiras gerações. Por isso, na primeira geração "isseis", a miscigenação foi de 0%; na segunda geração, os "nisseis" foi de 6%; na terceira geraçao "sansseis" foi de 42%; e, na quarta geração, "yonisseis" é de 61%. Ainda hoje o casamento entre um 'nihonjin' (japonês) e um 'gaijin' (estrangeiro) é mal visto pelos mais velhos. 'Ainocô' é o termo usado no Japão para o miscigenado resultante de uniões entre japoneses e outros povos. No Brasil é usado por alguns acadêmicos para designar o fruto das uniões entre japoneses e brasileiros e seus descendentes. Atualmente, o termo 'ainokô' (transliteração da grafia original) está em desuso em terras nipônicas, já que não é mais bem-visto por suscitar "racismo". Em seu lugar tem sido usado o termo 'half' para fazer referência às pessoas mestiças, que no caso de norte-americanos e japoneses são chamaos de 'amerasians'.
A II Guerra Mundial foi um marco muito forte para o Japão, pois a derrota para os Estados Unidos destruiu a esperança de muitos militares, os quais acreditavam ser possível dominar a América e expandir o Império Nipônico. Um coronel reformado chamado Junji Kikawa fundou o movimento Shindo Renmei, isto é, "A Liga do Caminho dos Súditos" para não permitir a divulgação de que o Japão havia perdido a guerra. Foram apelidados de "Corações Sujos" devido aos métodos pouco recomendados de impor a sua ideologia.
No Brasil, a comunidade japonesa protestou contra a entrada do país na guerra contra os interesses do Japão. A maior parte da comunidade de imigirantes japoneses permaneceu fiel ao imperador Hiroito. Tais imigrantes organizaram protestos e distribuição de panfletos contra a posição brasileira, sofrendo, por isso, forte perseguição. A maior parte dos imigrantes, não aceitou a derrota do Japão na II Guerra Mundial, e, por isso, a colônia ficou dividida em dois grupos: os 'makegumi' ou derrotistas, representando menos de 20%, pois aceitavam a derrota; e os 'kachigumi' ou vitoristas, os quais não aceitavam a derrota. Grande parte da comunidade japonesa erradicada no Brasil fez parte da Shindo Renmei à época do conflito mundial. A Shindo Renmei foi uma associação terrorista criada no interior de São Paulo no início da década de1940 por 'isseis'. Alguns membros mais fanáticos da associação, a 'tokkotai' cometiam atentados violentos contra os 'isseis' e nipo-brasileiros que acreditavam nas notícias da derrota japonesa na II Guerra Mundial. A Shindo Renmei matou, pelo menos, 23 pessoas e feriu outras 147, todas nipo-brasileiras.

sábado, 9 de fevereiro de 2008

Oriente Médio, Um Barril de Pólvora I

A partir deste, dar-se-á uma série de artigos sobre o "Oriente Médio". O tema é, por si só, intricante, necessário e curioso. Há inúmeras maneiras de se abordar um tema, sendo ele polêmico, ou não. Entretanto, alguns temas são, na sua própria origem, história e natureza, polêmicos. O "Oriente Médio" é um destes e transita desde a empolgação até a ira.
Não é por acaso que, ali, naquele palco milenar travam-se tantas e inumeráveis batalhas. Seus protagonistas, atores e coadjuvantes são, na essência, a própria polêmica que vive e revive pelos séculos.
Antes de se dar sequência a esta tarefa, são necessários alguns esclarecimentos. Primeiramente, o termo "Oriente Médio" não é suficiente, e pode-se dizer, que, é até displicente ou propositado. Visto que o planeta está dividido em quatro hemisférios, costuma-se denominar a porção à leste do meridiano de Greenwich como Oriente e a porção à oeste deste, de Ocidente. Considerando-se que a porção oriental, onde se localiza a região em tela, seja, em sua extensão e relação geográfica, dividida em extremo oriente, médio oriente e oriente próximo, a referida região, objeto deste artigo, situa-se no Oriente Próximo ou Ásia Ocidental.
Secundariamente, o que significa a expressão "Oriente Médio"? É o subproduto da historiografia eurocentrista que, por sua posição, considerava esta sub-região asiática, como sendo o ponto médio entre a Europa Ocidental e o Extremo Oriente. Isto remonta à época das rotas comerciais entre o Oriente e o Ocidente. Por imposição da ideologia ocidental prevalece ainda na mídia e nos livros a expressão "Oriente Médio".
O Oriente Próximo ou Ásia Ocidental é uma das sub-regiões do Continente Asiático e sua delimitação é determinada pela extensão das suas sub-regiões com todos os seus pressupostos culturais. Assim, o "Oriente Médio" se compõe da Ásia Menor, (onde está a Turquia), da Mesopotâmia (atual Iraque), do Planalto Iraniano (onde estão o Irã e o Afeganistão), do Levante (onde estão o Líbano e a Síria), da Palestina (onde está Israel e os territórios de Gaza e Cisjordânia, que, segundo se espera, formarão o Estado da Palestina), a Península Arábica (onde está a Árabia Saudita e mais alguns países) e o Sinai (que pertence ao Egito). Então pode-se dizer que a Ásia contém o "Oriente Médio" e, este, contém suas seis sub-regiões retromencionadas.
O "Oriente Médio" é de fato, a encruzilhada geopolítica do mundo. A partir dessa região, têm-se a Europa, a Ásia e a África, imediatamente mais próximas, e a meio caminho têm-se a Oceania e a América. Por isso, sempre foi alvo dos mais ambiciosos conquistadores ao longo da história, pois quem tiver o "Oriente Médio" às mãos, poderá ter o mundo rapidamente a seus pés. No livro do profeta Ezequiel há uma referência à centralidade de Jerusalém, a capital de Israel e cidade mais importante: "Assim diz o Senhor Deus: Esta é Jerusalém; coloquei-a no meio das nações, estando os países ao seu redor." A hermenêutica e a exegese mostram que tal centralidade pode ser objeto de mais de uma interpretação, mas é centralidade da mesma forma.
Jerusalém é hoje uma cidade dividida, disputada e pretendida por, no mínimo, três grandes segmentos histórico-religiosos: o judaísmo, o islamismo e o cristianismo. Em nome de Cristo e da "fé cristã", o solo da cidade santa já foi muitas vezes banhado do sangue à época das cruzadas. Em nome de Maomé, árabes-palestinos e outros muçulmanos reivindicam o direito sagrado sobre Jerusalém e, finalmente, em nome da sua história ali iniciada e desenvolida durante muitos séclos, os judeus reivindicam-na como capital eterna de Israel. É, de fato, a pedra de tropeço colocada entre os povos e nações, porque tudo quanto sucede ao "Oriente Médio" sucede e afeta o mundo.

domingo, 27 de janeiro de 2008

Cuba, A Ilusão da Utopia, ou a Utopia da Ilusão III?

Neste terceiro artigo serão analisados alguns fatos e aspectos da realidade de Cuba, tanto nos anos de apadrinhamento da ex-URSS, como nos anos posteriores ao fim do bloco socialista.
A revista Época de 21 de Janeiro de 2008, em suas páginas 74 a 83, trouxe uma reportagem que muito elucida a realidade da ilha de Fidel. A manchete de capa da referida revista diz: "Cuba, o sonho dos revolucionários, o pesadelo da vida real - e o futuro que aguarda os cubanos." O jornalista Ricardo Amaral abre a sua reportagem, perguntando: "Uma outra ilha é possível?" Sim, é! Porém, o sistema precisa ser substituído e a ditadura obsoleta precisa ser removida.
A verdade é que após 50 anos da revolução socialista de Fidel Castro, o país ainda não saiu do "terceiro mundo", a pobreza não foi erradicada, a prostituição profissionalizada continua, o contrabando é comum e cubanos sonham com a liberdade e o dia em que poderão ter acesso à modernidade. Ainda ocorre forte censura e o Estado é tipicamente ditatorial. Não foi por acaso que o escritor Antonio Saramago, rompeu o seu apoio à ditadura cubana após a execução de cubanos desertores há uns 3 anos atrás.
Estive em Cuba em meados dos anos 90, e o que vi não foi um paraíso. Vi cubanos entrincheirados em uma ilha de aproximadamente 110.000 km/2, comprando menos do mínimo necessário em armazéns estatais chamados "las bodeguitas". Utilizam uma caderneta onde cada coisa é anotada, pois há quantidades fixadas para cada produto e para cada consumidor. Vi cubanos não podendo ter acesso às praias destinadas aos turistas, às lojas do denominado "intur", aos hotéis e restaurantes. O motorista do microônibus que nos levou a cidade balneário de Varadero, recebia as gorjetas desajeitado e temeroso de que seus superiores o apanhassem recebendo a "propina". Solicitou que comprasse para ele, na loja do intur, um tênis e um chinelo. O tênis corresponderia ao antigo conga usado no Brasil, nos anos 70; o chinelo corresponde às havaianas ainda hoje usadas no Brasil, porém bastante inferior. Quando recebeu as mercadorias muito desconfiado, olhando sempre para os lados, abria a sacola a cada cinco minutos e olhava os produtos com brilho nos olhos. Eram para seus filhos adolescentes e ele gastou cerca de US 4,00 dólares americanos ganhados ilegalmente conforme o sistema oficial de Cuba. Lá o turista entra com dólares americanos, mas é obrigado a trocá-los por uma moeda local só para turistas, denominada de CUC que vale US 0,80 do dólar.
Cidadãos comuns em Cuba gostam muito de conversar com turistas pelas ruas a fim de contar ou "resolver" (negociar) coisas. Um destes, interpelou-me no centro de Havana, para contar que eles não comiam qualquer tipo de carne há uns dois anos e meio, e que tudo era vigiado e controlado com muito rigor. Outro, em Varadero, um garçon, contou-me que tinha uma filha de 7 anos morando em Miami com a mãe, a qual não conhecia. Tentou o visto de saída da ilha por três vezes, sendo-lhe negado pelo governo. Contou dos inúmeros casos de tentativa de fuga em botes feitos com câmara de pneus de carro. Muitos morrem de insolação, de sede, comidos por tubarões, ou são repatriados pela guarda costeira e tratados como desertores e traidores da revolução.
Os cubanos que trabalham no circuito turístico são altamente privilegiados, pois têm acesso pelo menos à comida de boa qualidade, às informações pela televisão a cabo e não-estatal. Nesta última só se veicula aquilo que é do interesse do governo, ou seja, informações manipuladas. Percebi no saguão do Hotel Rivera em Havana, que os faxineiros esfregavam o mesmo lugar do chão ou limpavam o mesmo vidro da mesinha de centro por incontáveis minutos. Isto para ficar de olhos atentos nos noticiários vindos do mundo exterior. Esta é a única maneira de ficar sabendo das notícias fora da ilha e de repassá-las aos familiares e amigos.
Ao visitar livrarias e andar pelas ruas, vi que 80% dos livros são críticas aos Estados Unidos como país ou ao presidente que estiver em exercício, não importa quem. A cada quinze passos que se anda pelas ruas, percebem-se desenhos caricatos ou grafites de crítica aos EUA e seus dirigentes. Em diversos pontos da cidade de Havana e em outras cidades do interior há um sem número de cartazes, frases, pichações e estátuas de exaltação a Fidel Castro, ou aos ideais da revolução. Se vê claramente que aquilo não é uma manifestação espontânea do povo, mas uma propaganda sistematizada e desesperada do governo para desviar a atenção do povo. Criticar e incitar o povo contra os Estados Unidos, seja por causa do bloqueio econômico, seja por razões históricas é um mero instrumento de estravazamento da ira popular pela miséria, opressão e pobreza em que vivem. É uma das estratégias de Fidel para se manter no poder.
Visitei três escolas. Em uma delas, o teto estava escorado com tábuas e esteios de madeira, em outra os alunos estavam em enorme balbúrdia, enquanto a diretora e as professoras olhavam um album de família de alguém da escola. Esa mesma diretora, entre tantos discursos cheios de arrogância e exaltação ao seu país, disse-me: "¿Los Estados Unidos? Si nosotros quisiéramos, nosotros los destruiríamos con un soplo." Eu fiquei imaginando, em silêncio, aquela afirmação com um ar de piedade, pois não me restava outra alternativa. Pensei, se os EUA sobrevoassem esta ilha com 6 caças Mig 29, não sobraria absolutamente nada no país. Mas, quando estamos em terra estranha, devemos apenas ouvir e meditar sobre o que ouvimos.
É verdade que a educação é gratuita e para todos e, que, também não há analfabetos em Cuba. Hoje é o país com mais alto índice de portadores de curso superior com especialização, porém não há trabalho para eles. Todavia, também é verdade que é muito mai fácil e viável alfabetizar uma ilha de 110.000 km², com uma população aproximada de 11.000.000 de habitantes espalhados em 14 províncias. Se após 50 anos no poder, o sistema socialista que se propunha resolver todos os dilemas de Cuba e do mundo, não tivesse pelo menos alfabetizado todos, não valeria a pena ter morrido tanta gente. O sistema de saúde tão elogiado no Brasil e em alguns lugares do mundo funciona assim: o médico é um indivíduo privilegiado, pois pode residir em uma casa sozinho. Geralmente é um sobrado, ele mora na parte de cima e a parte de baixo é um ambulatório ou consultório. Ele atende a uma freguesia pré-definida nas vizinhanças. Acompanha desde o nascimento até a morte os seus pascientes. Ao consultar os seus pascientes, verificada a necessidade de exames mais acurados, os envia ao policlínico do bairro. Se, no policlínico, os médicos verificarem que a necessidade do pasciente é maior, enviam-no ao hospital. Enquanto projeto é muto interessante, porém as filas são quilométricas, não há todos os remédios para todos e, portanto, nem todos são bem atendidos. Se alguém tem dúvidas disso, pode perguntar a diversos médicos cubanos que vieram para o Brasil trabalhar em algumas administrações esquerdistas, em certos municípios, dentre estes, destaco Paracatu em Minas Gerais.
É verdade ainda que alcançaram grande sucesso no desenvolvimento de algumas drogas como por exemplo, na área de geriatria, vitiligo e controle de doenças tropicais. Mas, é verdade também que hoje o governo não está conseguindo manter todos os serviços a todos os cidadãos com excelência de qualidade como se propala por aí. No Brasil é muito comum intelectualóides de esquerda assentarem nos bares e botecos para elogiar Cuba enquanto degustam a gelada e os tira-gostos, mas não querem ir morar lá. E, quando vão passear, frequentam apenas os circuitos e cenários montados para iludir turistas e intelectuais de esquerda.
A questão é muito simples de ser entendida: Cuba conseguiu muitas vitórias sociais e programas eficientes, apenas enquanto a ex-URSS a financiava com dinheiro, mentirosamente chamado de ajuda humanitária; com petróleo barganhado por açúcar, tabaco e frutas tropicais, além de apoio e assessoria militar. Durante a "guerra fria" a ex-URSS contratava milhares de soldados cubanos para fomentar guerras e guerrilhas na África e Ásia. Isto tudo tinha um custo e um alto preço pago ao governo de Cuba em troca de propagar o socialismo no continente americano. Porém, quando acabou o bloco socialista, a URSS foi desmantelada e a globalização se acelerou, Cuba caiu numa espécie de "buraco negro". Não tem de onde tirar dinheiro para manter os programas sociais. Atualmente Hugo Chaves investe lá cerca de US$ 2 bilhões em petróleo. São cerca de 92.000 barris por dia. A China, embora importe e exporte para Cuba, tem os seus próprios e gigantescos problemas a serem resolvidos. Até o Lula prometeu recentemente investir cerca de US$1 bilhão de dólares na ilha, em solidariedde a Fidel.
Tive alguns alunos que foram para Cuba estudar medicina, mesmo sabendo que o diploma de lá não era reconhecido aqui. Um deles desistiu e, as razões foram, a espionagem em suas correspondências, o baixo nível do curso e a escassez de recursos para fazer um bom curso. Outra de Brasília fez o curso, porém esta fazendo uma complementação para poder exercer a profissão no Brasil.

sábado, 26 de janeiro de 2008

Cuba, A Ilusão da Utopia ou A Utopia da Ilusão II?

No primeiro artigo fez-se uma singela e sucinta imersão na história da Revolução Cubana. A partir de agora imergir-se-á um pouco mais, não apenas na história da denominada revolução, mas também nos seus efeitos e conseqüências.
Quando Fidel Castro foi submetido ao julgamento pelos ataques aos quartéis e por todas as ações guerrilheiras que dizimaram milhare de pessoas, ele, em sua defesa afirmou "la história me absolverá". Dizia ele isto como fundamentação à legitimidade dada pelo povo na luta contra o "estabelishment" ou o "status quo" instalado na ilha pelo governo de Fulgêncio Batista apoiado pelo capital internacional, especialmente pelos Estados Unidos.
Imediatamente após a vitória dos revolucionários, Fidel Castro pôs-se a desmantelar o sistema neocolonial, dissolveu os instrumentos de repressão, confiscou bens que julgou terem sido obtidos ilicitamente por dirigentes do regime anterior, os criminosos de guerra que serviram ao governo deposto foram julgados, condenados e exonerados. Destitui-se a direção do Movimento Operário, cassou e extinguiu os partidos políticos que haviam servido ao governo de Batista.
Nos primeiros momentos da revolução, Fidel Castro foi nomeado Primeiro-Ministro, o acesso às praias foi liberado ao povo, as companhias que monopolizavam os seviços públicos foram objeto de intervenção estatal e verificou-se a redução dos aluguéis.
Há 17 de Maio de 1959, foi decretada a Lei Agrária que, entre outras ações, acabava com os latifúndios, estatizava as terras em mãos de estrangeiros, as propriedades com mais de 420 hectares eram desapropriadas e as terras eram entregues a arrendatários e parceiristas.
Os Estados Unidos perderam muitos investimentos e explorações vantajosas em Cuba, por isso, procuravam alguma forma de reverter o movimento revolucionário. Em Outubro de 1959, um levante militar em Camagüey orquestrado por Herbert Matos, comandante deste posto foi abortado. Afirmava-se que Matos estava em associação a pessoas de caráter questionável, a latifundiários e outros elementos contra-revolucionários locais.
Diante de inúmeros atos de sabotagem e terrorismo contra a revolução, o governo criou milícias, comitês, federações e associações de jovens, levando, assim a uma mais ampla participação popular na defesa da revolução. Estas organizações inspiradas nos modelos soviético e chinês, tinham basicamente poder de vida e de morte em Cuba.
Quanto mais os EUA tomavam medidas de isolamento e retaliação comercial contra Cuba, mais o governo revolucionário procurava dinamizar e ampliar as suas relações internacionais, inclusive com os países de orientação socialista. Na mesma proporção que o governo revolucionário se expandia no processo, os norte-americanos, as oligarquias locais e a burgueria cubana realizavam manobras para salvar suas propriedades, investimentos, direitos e garantias.
Após a supressão das cotas de açúcar por parte dos Estados Unidos, o presidente Eisenhower rompeu relações com Cuba, patrocinou diversos grupos contra-revolucionários em diferentes partes da ilha. Além disso, a CIA treinou diversos cubanos que fugiram para os EUA, a fim de levá-los a uma invasão a Cuba e retomar o poder. Uma brigada de cubanos oriundos dos Estados Unidos invadiu a Playa Girón, ha 17 de Abril de 1961, porém a reação popular e os militares derrotaram os invasores cubanos. No enterro das vítimas do ataque, Fidel Castro aproveitou o momento de grande comoção e declarou as suas reais intenções de levar o país para o socialismo.
Em Outubro de 1962, os EUA descobriram a instação de bases ou rampas de lançamentos de mísseis voltadas para o seu território. Neste episódio que foi batizado de "Crise dos Mísseis", ficou claro que se tratava de um enfrentamento direto entre as duas grandes potências promotoras da "Guerra Fria" - Estados Unidos e União das Repúblicas Socialistas Soviéticas. Os norte-americanos, sob o comando do presidente John Kennedy, deram um ultimato à URSS, que sob o comando de Nikita Kruschev, retirarou os mísseis e desfez as rampas de lançamento. Mesmo após a retirada dos mísseis, e com base no Plano Mangosta, os EUA não descartaram a possibilidade de uma invasão militar à Ilha.
Após todos estes fatos, os Estados Unidos conseguiram expulsar Cuba da OEA - Organização dos Estados Americanos - e estabeleceram um bloqueio econômico a Ilha que perdura até o dia de hoje, mesmo depois de o Conselho de Segurança da ONU ter exigido três vezes o fim do bloqueio, por ampla maioria de votos. Exceção feita ao México, todos os demais países latino-americanos romperam relações com Cuba.
Nestas condições, o governo revolucionário cubano procurava ampliar suas relações com o grupo de "Países Não-Alinhados" e com outras nações do "Terceiro Mundo". Também, Cuba buscou apoio militar e comercial na ex-URSS e outros países socialistas.
Fica claro até este ponto, que, o pano de fundo deste momento histórico era a "Guerra Fria" e que, aos Estados Unidos era inconcebível a ampliação da ação político-ideológica do socialismo soviético ou chinês no continente americano. Considerações e posturas ieológicas àparte, mas tanto os revolucionários, como os grupos oligárquicos, latifundiários, empresários cubanos e investidores norte-americanos, estavam lutando, uns para chegar ao poder e estabelecer uma nova ideologia e outros para não perder seus bens e riquezas.
Não adianta discutir o mérito de revolucionários explorados e burgueses exploradores, todos querem acima de qualquer ideologia, o poder, e o poder que o poder lhes proporciona.

sexta-feira, 25 de janeiro de 2008

Cuba, A Ilusão da Utopia ou A Utopia da Ilusão I ?

No final dos anos 50, o sonho de muitos jovens latino-americanos era implantar um sistema socioeconômico que corrigisse as injustiças geradas pelo processo histórico e distribuisse melhor a riqueza nacional e mundial. Tais estudantes foram imbuídos dos ideais assmilados das páginas dos livros de autores cuja hermenêutica era marxistas, influenciados pela poderosa URSS que, pela pregação de alguns bolchevistas - Lênin, Stálin e Trotsky - implantou um sistema planificado da produção e pelo sucesso da revolução de esquerda já consolidada por Mao Tse Tung em 1949, na China.
Ernesto Rafael Guevara de la Serna, o Che, um jovem médico argentino cujo histórico de vida era um tanto conturbado por grandes dificuldades colocou o sonho de libertação e autodeterminação dos povos oprimidos acima dos ideais da sua profissão, resolveu apoiar um grupo de jovens estudantes cubanos liderados por Fidel Alejandro Castro Ruz, Camillo Cienfuegos, entre outros.
O Movimento 26 de Julho, recebeu este nome, porque nesta data houve o ataque aos quartéis de Moncada em Santiago de Cuba e Carlos Manuel de Céspedes em Bayamo, no ano de 1953. Os revolucionários foram derrotados e centenas deles mortos em combate ou executados. Fidel Castro e outros líderes foram julgados e condenados a prisão. Também foi criado o Grêmio Revolucionário formado pelos mais ardentes e combativos estudantes universitários.
Um grupo de oficiais militares aquartelados no Acampamento Militar de Columbia - José Ramón Fernandez, José Orihuela, Enrique Borbonet, Ramón Barquín, Manuel Varela Castro, entre outros - na Fortaleza da Cabana e nos Colégios Militares. Tais oficiais se rebelaram e conspiravam contra a política acéfala do presidente Fulgêncio Batista, exigindo melhorias no processo de formação e profissionalização dos militares. Uma denúncia levou a prisão de todos os conspiradores e ao aborto dos seus planos revoltosos.
Também houve o ataque ao quartel de Domingo Goicuría em 29 de Abril de 1956. Eram cerca de 50 combatentes da Organização Autêntica liderada por Reinold García. Depois constatou-se que eram esperados, visto que, 17 combatentes foram mortos, nenhum ferido e, do lado dos militares, nehuma morte e nenhum ferido. Após este ataque o governo recrudeceu contra os movimentos revoltosos, levando Fidel Castro se retirar para o México, de onde planejava uma nova investida mais eficiente e mais organizada.
Fidel Castro organizou a Expedição Libertadora e, há 2 de Dezembro de 1956, retornou a Cuba a bordo do Yate Granma, desembarcando nas Províncias Coloradas Orientais. Após muitos reveses, Fidel Castro e alguns poucos combatentes conseguiram conquistar um território em Sierra Maestra ao sul da ilha. Ali Fidel construiu o núcleo basilar de um exército rebelde. Um mês depois Fidel Castro atacou o quartel de La Plata com sucesso.
Enquanto Fidel Castro combatia nas montanhas em diversas ações, o comandante José Antonio Echeverría - Presidente da Federação Estudantil Universitária - e seus comandados atacavam o palácio presidencial em Havana, a capital. Fracassaram neste ataque e o comandante Echeverría morreu. Em diversas cidades muitas ações de sabotagem, pilhagem e atentados apenas contribuíam para o recrudecimento da ação governamental com execuções, prisões e torturas.
No final de 1957, o Exército Rebelde já se achava fortalecido em Sierra Maetra com duas colunas revolucionárias de combatentes. No início de 1958, os revolucionários deram início a uma greve geral com grande força, após tentativas fracassadas de ataques das tropas governamentais a Sierra Maestra. Embora Fidel Castro tenha criado duas novas colunas lideradas, respectivamente, por seu irmão, Raul Castro e por Juan Almeida, a fim de aumentar o controle em outras áreas montanhosas, a greve geral fracassou.
O presidente Fulgêncio Batista aproveita o enfraquecimento da guerrilha para promover um grande ataque a Sierra Maestra com 10.000 homens. Apesar do ataque, as guerrilhas conseguiram derrotar as tropas do governo, obrigando-as a bater em retirada. Neste cenário, Fidel Castro investe contra Guisa, Che Guevara e Camilo Cienfuegos controlam Lãs Villas, Raul Castro e Juan Almeida conquistam Santiago de Cuba.
A 1º de Janeiro de 1959, o presidente Fulgêncio Batista abandonou o país. A embaixada norte-americana, tentou, ainda, uma nova manobra, apoiando a criação de uma Junta Cívico-Militar, sob o comando do general Eulogio Cantillo. Fidel ordenou os revolucionários de Santiago de Cuba a se renderem, mas convoca uma greve geral que paralisa o país. Estas ações acabaram por consolidar a Revolução Cubana.

Arnaldo Jabour e a Ideologia do Não

No Jornal da Globo de 25 de Janeiro de 2008, o jornalista Arnaldo Jabour presenteou o público noctâmbulo com uma rara pérola. Refiro-me à crônica diária, a qual versava acerca do primeiro dia de audiência forense sobre o caso midiaticamente chamado de "Mensalão". Naquela crônica, o celebrado jornalista, como soe acontece aos bons comunicadores, alertou os telespectadores sobre a ideologia do "não" como instrumento da dissimulação.
Para ele, no que também concordo, a esquerda bolchevista desenvolveu com grande perícia a ideologia do "não". Eles conseguem dizer tantas vezes "não" que, ao final, até os mesmos ficam em dúvidas se fizeram ou não algumas coisas.
A abordagem de Jabour foi desenvolvida em torno do fato de que, no governo que aí está, há uma profunda e meticulosa capacidade de dizer "não" a qualquer acusação ou pergunta. O importante é sempre negar, porque, contando com o fator tempo, com a curta memória do povo e com a impecável capacidade de dizer "não" sem mover um músulo do rosto, os "casos" vão caindo no esquecimento. Com o tempo e tantos "nãos", cada cidadão se convence de que estava mesmo era louco e que não aconteceu nada do que imaginava, na verade, trata-se apenas da síndrome da conspiração e da velha mania de ver improbidade em tudo e em todos os servidores do Estado.
A ideologia do "não", aliada ao tempo e à acefalia cotribui para levar todos os descalábrios para a terra do nunca. Assim, a cada afirmação ou interrogação sobre qualquer suspeita de violação dos princípios constitucionais e das normas que lhes são subseqüentes, corresponde um elegante, suave e irremovível "não".
O cronista global usa de uma metáfora, esta tão batida e rebatida figura utilizada pela esquerda e pela direita: supondo que um ladrão seja apanhado roubando uma galinha e, questionado se está roubando a indefesa ave, ele responde, não! O interlocutor diz: mas, o senhor está com a galinha debaixo do braço! Ele, afirma categoricamente: não! Estou apenas levando a galinha par passear.
Por símile, o servidor público ou o político profissional que, apanhado em desvios, negociatas e improbidades, quando interpelado, diz: não! Eu não estou robando, o dinheiro está apenas sendo levado por mim e passado adiate. E ajunta: na verdade eu nem estou aqui!
Quisera Deus fossem alguns políticos e servidores apenas roubadores de galinahs... No máximo seriam associados às raposas felpudas que, apanham as galinhas só para saciar a sua fome natural. É da natureza das raposas se alimentar das galinhas. Por isso, em "O Pequeno Príncipe", Saint Exuperry mostra no capítulo XXI, que não era possível haver amizade entre homens e raposas, porque os seus interesses e objetivos eram opostos. De sorte que, as raposas apanhavam as galinhas, enquanto os homens caçavam e matava as raposas. A raposa diz ao menino príncipe, que era necessário criar os laços, isto é, o nobre menino deveria domesticá-la primeiro.
Aplicando o prinípio do livro de Exuperry ao caso do "Mensalão" conclui-se que os homens colocaram as raposas nos galinheiros a fim de apascentarem as galinhas, cevá-ls, engordando-as até ficarem no ponto de serem roubadas.
Tudo passa sobre a face da Terra...
É preciso voltar à ideologia do sim. É necessário expulsar as raposas dos galinheiros antes que elas neguem até que são raposas. As raposas devem passar por um programa de reeducação a fim de aprenderem a dizer "sim" a toda indagação que lhes acuse de ter visto, ouvido e falado sobre roubos de galinhas.

sábado, 19 de janeiro de 2008

Não É: "Deus, Um Delírio", Mas, O Delírio de Deus...

Richard Dawkins é o autor do já celebrado e best seller "Deus, Um Delírio". Este homem possui um dos mais elevados perfis no campo da ciência biológica e da filosofia. Assim se descreve o seu brilho e o seu brilhantismo: "num tempo de guerras e ataques terroristas com motivações religiosas, o movimento pró-ateísmo ganha força no mundo todo. E seu líder é o respeitado biólogo Richard Dawkins, eleito recentemente um dos três intelectuais mais importantes do mundo (junto com Umberto Eco e Noam Chomsky) pela revista inglesa Prospect. Autor de vários clássicos nas áreas de ciência e filosofia, ele sempre atestou a irracionalidade de acreditar em Deus, e os terríveis danos que a crença já causou à sociedade."
Este é de fato o perfil do homem natural que, sem perspectiva de ver da mera letra além, se decepciona quando não consegue ver Deus, ou se deprime ao olhar para dentro de si mesmo no espelho do teatro individual. Para suprimir Deus, busca ilustrar-se ao máximo e, uma vez, iluminado com luz própria, enuncia aquilo que a sua mente pode alcançar e concluir à luz de si mesmo. Mas, se a luz que há no homem são trevas, quão grandes são as suas trevas. Visto que, para o homem natural, Deus não é, e, muito menos, existe, restando-lhe, assim, afirmar o pró-ateismo. Entretanto, tal assertiva é paradoxal, para não dizer incoerente, uma vez que se afirma o que não é, e que não existe. Não há necessidade de afirmação ou negação daquilo que não é, e que não existe.
Não é Deus um delírio dos religiosos. O delírio é o próprio religioso que tenta criar um Deus à sua imagem e semelhança. Deus nada tem a ver com a religião e, por conseqüência, com o religioso. Este é sujeito daquela, logo, aquela não existe sem este, sendo ele o seu sujeito, obrigatoriamente aquela é o seu objeto. Não se pode tomar religião por verdade, mas apenas como a verdade relativizada ao homem. A verdade não é um conceito, não é uma doutrina, não é uma concepção filosófica. A verdade é uma pessoa, a saber, o próprio Deus.
A religião se define como sendo uma propositura delirante do homem em direção a um Deus que, no seu eterno delírio de amor e justiça, resolveu buscar o vaso que se havia quebrado nas mãos do oleiro. A religião parte do relativo ao absoluto, mas a verdade parte do absoluto ao relativo. Isto faz grande diferença na medida em que, o delírio do homem não pode mudar o Deus que delira em graça abrindo mão da sua soberania de, inclusive, nada fazer pelo homem. Quando alguém se debruçar sobre a tarefa de compreender o que é soberania saberá, entre outras coisas, que Deus pode absolutamente tudo sem necessidade de consultar o homem.
Essencialmente, se pode afirmar, como Brennan Meaning afirma: "Deus não tem dignidade". É chocante à prima visio, todavia, o que se afirma, neste caso, é que Ele abre mão da Sua infinita dignidade, para buscar o homem indigno sem que este nada mereça. A questão toda se circunscreve ao fato de que o homem faz uma avaliação super-faturada de si mesmo e julga poder controlar Deus.
É de Phillip Yancey a definição de misericórdia, como sendo Deus não dando ao homem o que de fato este merece, isto é, o inferno. Já a sua definição de graça é Deus fzendo tudo por quem nada merece. Assim, a ação de Deus é sempre monérgica e independente, posto que a soberania Lhe confere total e plena autonomia para fazer, ou deixar de fazer qualquer coisa.
Invariavelmente vivemos um tempo de muitas falácias e pouca profundidade até mesmo para negar Deus.

sexta-feira, 18 de janeiro de 2008

Tempus Fugit

O tempo é uma categoria que, em sua significação e natureza, muito pressiona e impressiona o homem. Em seu desenvolvimento não se deixa apanhar por quaisquer mentes, entes e sujeitos. É um vetor que ultrapassa a capacidade relativizada do homem e dos seus postulados. Não há um enunciado capaz de reter, conter ou deter o tempo. Há categorias de tempos, apenas para o efeito de reaciocínio, posto a debilidade na forma e na extensão do que se concebe como raciocínio. Há o tempo 'kronos', o qual se relaciona ao movimento. Neste sentido se admitem o tempo passado cuja existência não mais se percebe, salvo na subjetividade das lembranças embaçadas pela degenerescência dos neurônios; adminte-se ainda o tempo presente cuja efemeridade é instantânea; e, finalmente admite-se o tempo futuro cuja forma e essência ainda é desconhecida.A outra categoria é o tempo 'kairos', qual seja, o tempo específico e exato em que um evento acontece. Neste sentido, os fatos que se sucedem ao longo do tempo cronológico, nada mais são que a sucessão de tempos específicos.Com muita propriedade Clarisse Lispector afirma: "vou captar o instante já, que de tão fugidio não é mais. Cada coisa tem o instante em que ela é. Eu quero apoderar-me do é da coisa, mas ainda tenho um pouco de medo, pois o próximo instante é desconhecido."No texto sagrado, quando se refere ao tempo antes dos tempos eternos nos remete a uma dimensão fora da esfera do nosso alcance. Imaginar o tempo, é por si só, um exercício de extremas exigêcias, quanto mais imaginá-lo antes da própria eternidade.
O tempo é implacável com as coisas e com os homens, de sorte que, todas as coisas e seres já nascem perecendo. A degenerescência é constante em meio a tantas variáveis. A flor que ora viçosa aqui, alhures murcha, seca e cai. O Sol que se levanta lançando suas primeiras lanças douradas, esvaecido se põe ao entardecer. A onda que, bravia se levanta em médio mar, se quebra e se arrasta até ser engolida pela areia.
Assim, o tempo não perdoa, mata lentamente.