sexta-feira, 30 de dezembro de 2011

O DESCORTINAMENTO DE UMA VERDADE

Há um adágio popular que diz: "os números não mentem, mas são feitos por mentirosos." Tomando-se as devidas proporções no tocante ao plebiscito do último dia 11 de dezembro de 2011, tal anexim aproxima-se muito da verdade. Tem-se hoje o estado do Pará como uma das 27 unidades político-administrativas do Brasil. É uma unidade da federação geograficamente maior que dezenas de países do globo. Entretanto, é brutal a desigualdade socioeconômica. O mais grave, neste caso, é a enorme diferença de tratamento relativamente ao bem-estar social. São dezenas de municípios desprovidos do mínimo necessário à sobrevivência: saúde, educação, transportes, energia, telecomunicações e moradia. 
O resultado do plebiscito descortinou uma verdade oculta à maioria dos brasileiros: uma população vivendo à margem da vida, porém em meio a enormes riquezas naturais. É como ser pobre em um país rico, por isso, as desigualdades se tornam muito gritantes. Ser rico em uma sociedade rica, ou pobre em uma sociedade pobre não evidencia absolutamente nada, pois o anormal parece normal a todos. Todavia, viver de modo desprotegido em meio a enormes riquezas é, mais do que desigual, é desumano. Esta é pois a realidade das regiões do Carajás e do Tapajós. Do ponto de vista de recursos naturais e econômicos são mais ricas que todo o restante do Pará. Porém, do ponto de vista dos benefícios destas riquezas aos habitantes, é mais pobre do que muitas outras regiões do Brasil. 
Os tecnocratas do IPEA deram a opinião deles antes do plebiscito, afirmando que estes estados seriam inviáveis economicamente. Pois bem, qual estado ou território brasileiro era viável quando foram criados? Este discurso serve a, no mínimo, dois propósitos: manter o status quo dos que estão no poder, ou manter o fluxo de riquezas das regiões do Carajás e do Tapajós na direção de outros pontos do estado, e do país.
No mesmo viés leem-se opiniões postadas na mídia virtual, afirmando que tal divisão só serviria para dar lugar a um maior número de políticos e maiores gastos públicos para manter o aparelho administrativo dos possíveis novos estados. Pois bem, é verdade, porém pergunta-se que diferença faz eleger políticos subordinados aos interesses do governo estadual em Belém e elegê-los para responder diretamente à população dessas regiões? Esta última opção é preferível aos olhos dos que vivem no Carajás e no Tapajós.
Finalmente, os resultados do plebiscito serviram muito, porque mostram, que, o total de 95% do "SIM" no Carajás e no Tapajós juntos representa o descortinamento de um desejo, e mais do que isto, de uma vontade.  Os resultados parciais foram muito sugestivos também, pois segundo os dados do TRE/PA foram os seguintes:
Região do Carajás: 
SIM = 33,4%
NÃO = 66,60
ABSTENÇÕES = 25,71%
NULOS = 1,05%
BRANCOS = 0,41%
Região do Tapajós:
SIM = 33,92%
NÃO = 66,08%
ABSTENÇÕES = 25,71%
NULOS = 0,49%
BRANCOS = 1%
A leitura destes dados se torna mais clara quando se sabe que o Nordeste do Pará é mais populoso e, interessado em manter a atual situação, votou pelo "NÃO". Entretanto, um terço dos eleitores nas respectivas regiões separatistas não é um valor a ser desprezado politicamente. Poderão ser perfeitamente usados nas urnas em 2012 e 2014.

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