domingo, 27 de janeiro de 2008

Cuba, A Ilusão da Utopia, ou a Utopia da Ilusão III?

Neste terceiro artigo serão analisados alguns fatos e aspectos da realidade de Cuba, tanto nos anos de apadrinhamento da ex-URSS, como nos anos posteriores ao fim do bloco socialista.
A revista Época de 21 de Janeiro de 2008, em suas páginas 74 a 83, trouxe uma reportagem que muito elucida a realidade da ilha de Fidel. A manchete de capa da referida revista diz: "Cuba, o sonho dos revolucionários, o pesadelo da vida real - e o futuro que aguarda os cubanos." O jornalista Ricardo Amaral abre a sua reportagem, perguntando: "Uma outra ilha é possível?" Sim, é! Porém, o sistema precisa ser substituído e a ditadura obsoleta precisa ser removida.
A verdade é que após 50 anos da revolução socialista de Fidel Castro, o país ainda não saiu do "terceiro mundo", a pobreza não foi erradicada, a prostituição profissionalizada continua, o contrabando é comum e cubanos sonham com a liberdade e o dia em que poderão ter acesso à modernidade. Ainda ocorre forte censura e o Estado é tipicamente ditatorial. Não foi por acaso que o escritor Antonio Saramago, rompeu o seu apoio à ditadura cubana após a execução de cubanos desertores há uns 3 anos atrás.
Estive em Cuba em meados dos anos 90, e o que vi não foi um paraíso. Vi cubanos entrincheirados em uma ilha de aproximadamente 110.000 km/2, comprando menos do mínimo necessário em armazéns estatais chamados "las bodeguitas". Utilizam uma caderneta onde cada coisa é anotada, pois há quantidades fixadas para cada produto e para cada consumidor. Vi cubanos não podendo ter acesso às praias destinadas aos turistas, às lojas do denominado "intur", aos hotéis e restaurantes. O motorista do microônibus que nos levou a cidade balneário de Varadero, recebia as gorjetas desajeitado e temeroso de que seus superiores o apanhassem recebendo a "propina". Solicitou que comprasse para ele, na loja do intur, um tênis e um chinelo. O tênis corresponderia ao antigo conga usado no Brasil, nos anos 70; o chinelo corresponde às havaianas ainda hoje usadas no Brasil, porém bastante inferior. Quando recebeu as mercadorias muito desconfiado, olhando sempre para os lados, abria a sacola a cada cinco minutos e olhava os produtos com brilho nos olhos. Eram para seus filhos adolescentes e ele gastou cerca de US 4,00 dólares americanos ganhados ilegalmente conforme o sistema oficial de Cuba. Lá o turista entra com dólares americanos, mas é obrigado a trocá-los por uma moeda local só para turistas, denominada de CUC que vale US 0,80 do dólar.
Cidadãos comuns em Cuba gostam muito de conversar com turistas pelas ruas a fim de contar ou "resolver" (negociar) coisas. Um destes, interpelou-me no centro de Havana, para contar que eles não comiam qualquer tipo de carne há uns dois anos e meio, e que tudo era vigiado e controlado com muito rigor. Outro, em Varadero, um garçon, contou-me que tinha uma filha de 7 anos morando em Miami com a mãe, a qual não conhecia. Tentou o visto de saída da ilha por três vezes, sendo-lhe negado pelo governo. Contou dos inúmeros casos de tentativa de fuga em botes feitos com câmara de pneus de carro. Muitos morrem de insolação, de sede, comidos por tubarões, ou são repatriados pela guarda costeira e tratados como desertores e traidores da revolução.
Os cubanos que trabalham no circuito turístico são altamente privilegiados, pois têm acesso pelo menos à comida de boa qualidade, às informações pela televisão a cabo e não-estatal. Nesta última só se veicula aquilo que é do interesse do governo, ou seja, informações manipuladas. Percebi no saguão do Hotel Rivera em Havana, que os faxineiros esfregavam o mesmo lugar do chão ou limpavam o mesmo vidro da mesinha de centro por incontáveis minutos. Isto para ficar de olhos atentos nos noticiários vindos do mundo exterior. Esta é a única maneira de ficar sabendo das notícias fora da ilha e de repassá-las aos familiares e amigos.
Ao visitar livrarias e andar pelas ruas, vi que 80% dos livros são críticas aos Estados Unidos como país ou ao presidente que estiver em exercício, não importa quem. A cada quinze passos que se anda pelas ruas, percebem-se desenhos caricatos ou grafites de crítica aos EUA e seus dirigentes. Em diversos pontos da cidade de Havana e em outras cidades do interior há um sem número de cartazes, frases, pichações e estátuas de exaltação a Fidel Castro, ou aos ideais da revolução. Se vê claramente que aquilo não é uma manifestação espontânea do povo, mas uma propaganda sistematizada e desesperada do governo para desviar a atenção do povo. Criticar e incitar o povo contra os Estados Unidos, seja por causa do bloqueio econômico, seja por razões históricas é um mero instrumento de estravazamento da ira popular pela miséria, opressão e pobreza em que vivem. É uma das estratégias de Fidel para se manter no poder.
Visitei três escolas. Em uma delas, o teto estava escorado com tábuas e esteios de madeira, em outra os alunos estavam em enorme balbúrdia, enquanto a diretora e as professoras olhavam um album de família de alguém da escola. Esa mesma diretora, entre tantos discursos cheios de arrogância e exaltação ao seu país, disse-me: "¿Los Estados Unidos? Si nosotros quisiéramos, nosotros los destruiríamos con un soplo." Eu fiquei imaginando, em silêncio, aquela afirmação com um ar de piedade, pois não me restava outra alternativa. Pensei, se os EUA sobrevoassem esta ilha com 6 caças Mig 29, não sobraria absolutamente nada no país. Mas, quando estamos em terra estranha, devemos apenas ouvir e meditar sobre o que ouvimos.
É verdade que a educação é gratuita e para todos e, que, também não há analfabetos em Cuba. Hoje é o país com mais alto índice de portadores de curso superior com especialização, porém não há trabalho para eles. Todavia, também é verdade que é muito mai fácil e viável alfabetizar uma ilha de 110.000 km², com uma população aproximada de 11.000.000 de habitantes espalhados em 14 províncias. Se após 50 anos no poder, o sistema socialista que se propunha resolver todos os dilemas de Cuba e do mundo, não tivesse pelo menos alfabetizado todos, não valeria a pena ter morrido tanta gente. O sistema de saúde tão elogiado no Brasil e em alguns lugares do mundo funciona assim: o médico é um indivíduo privilegiado, pois pode residir em uma casa sozinho. Geralmente é um sobrado, ele mora na parte de cima e a parte de baixo é um ambulatório ou consultório. Ele atende a uma freguesia pré-definida nas vizinhanças. Acompanha desde o nascimento até a morte os seus pascientes. Ao consultar os seus pascientes, verificada a necessidade de exames mais acurados, os envia ao policlínico do bairro. Se, no policlínico, os médicos verificarem que a necessidade do pasciente é maior, enviam-no ao hospital. Enquanto projeto é muto interessante, porém as filas são quilométricas, não há todos os remédios para todos e, portanto, nem todos são bem atendidos. Se alguém tem dúvidas disso, pode perguntar a diversos médicos cubanos que vieram para o Brasil trabalhar em algumas administrações esquerdistas, em certos municípios, dentre estes, destaco Paracatu em Minas Gerais.
É verdade ainda que alcançaram grande sucesso no desenvolvimento de algumas drogas como por exemplo, na área de geriatria, vitiligo e controle de doenças tropicais. Mas, é verdade também que hoje o governo não está conseguindo manter todos os serviços a todos os cidadãos com excelência de qualidade como se propala por aí. No Brasil é muito comum intelectualóides de esquerda assentarem nos bares e botecos para elogiar Cuba enquanto degustam a gelada e os tira-gostos, mas não querem ir morar lá. E, quando vão passear, frequentam apenas os circuitos e cenários montados para iludir turistas e intelectuais de esquerda.
A questão é muito simples de ser entendida: Cuba conseguiu muitas vitórias sociais e programas eficientes, apenas enquanto a ex-URSS a financiava com dinheiro, mentirosamente chamado de ajuda humanitária; com petróleo barganhado por açúcar, tabaco e frutas tropicais, além de apoio e assessoria militar. Durante a "guerra fria" a ex-URSS contratava milhares de soldados cubanos para fomentar guerras e guerrilhas na África e Ásia. Isto tudo tinha um custo e um alto preço pago ao governo de Cuba em troca de propagar o socialismo no continente americano. Porém, quando acabou o bloco socialista, a URSS foi desmantelada e a globalização se acelerou, Cuba caiu numa espécie de "buraco negro". Não tem de onde tirar dinheiro para manter os programas sociais. Atualmente Hugo Chaves investe lá cerca de US$ 2 bilhões em petróleo. São cerca de 92.000 barris por dia. A China, embora importe e exporte para Cuba, tem os seus próprios e gigantescos problemas a serem resolvidos. Até o Lula prometeu recentemente investir cerca de US$1 bilhão de dólares na ilha, em solidariedde a Fidel.
Tive alguns alunos que foram para Cuba estudar medicina, mesmo sabendo que o diploma de lá não era reconhecido aqui. Um deles desistiu e, as razões foram, a espionagem em suas correspondências, o baixo nível do curso e a escassez de recursos para fazer um bom curso. Outra de Brasília fez o curso, porém esta fazendo uma complementação para poder exercer a profissão no Brasil.

sábado, 26 de janeiro de 2008

Cuba, A Ilusão da Utopia ou A Utopia da Ilusão II?

No primeiro artigo fez-se uma singela e sucinta imersão na história da Revolução Cubana. A partir de agora imergir-se-á um pouco mais, não apenas na história da denominada revolução, mas também nos seus efeitos e conseqüências.
Quando Fidel Castro foi submetido ao julgamento pelos ataques aos quartéis e por todas as ações guerrilheiras que dizimaram milhare de pessoas, ele, em sua defesa afirmou "la história me absolverá". Dizia ele isto como fundamentação à legitimidade dada pelo povo na luta contra o "estabelishment" ou o "status quo" instalado na ilha pelo governo de Fulgêncio Batista apoiado pelo capital internacional, especialmente pelos Estados Unidos.
Imediatamente após a vitória dos revolucionários, Fidel Castro pôs-se a desmantelar o sistema neocolonial, dissolveu os instrumentos de repressão, confiscou bens que julgou terem sido obtidos ilicitamente por dirigentes do regime anterior, os criminosos de guerra que serviram ao governo deposto foram julgados, condenados e exonerados. Destitui-se a direção do Movimento Operário, cassou e extinguiu os partidos políticos que haviam servido ao governo de Batista.
Nos primeiros momentos da revolução, Fidel Castro foi nomeado Primeiro-Ministro, o acesso às praias foi liberado ao povo, as companhias que monopolizavam os seviços públicos foram objeto de intervenção estatal e verificou-se a redução dos aluguéis.
Há 17 de Maio de 1959, foi decretada a Lei Agrária que, entre outras ações, acabava com os latifúndios, estatizava as terras em mãos de estrangeiros, as propriedades com mais de 420 hectares eram desapropriadas e as terras eram entregues a arrendatários e parceiristas.
Os Estados Unidos perderam muitos investimentos e explorações vantajosas em Cuba, por isso, procuravam alguma forma de reverter o movimento revolucionário. Em Outubro de 1959, um levante militar em Camagüey orquestrado por Herbert Matos, comandante deste posto foi abortado. Afirmava-se que Matos estava em associação a pessoas de caráter questionável, a latifundiários e outros elementos contra-revolucionários locais.
Diante de inúmeros atos de sabotagem e terrorismo contra a revolução, o governo criou milícias, comitês, federações e associações de jovens, levando, assim a uma mais ampla participação popular na defesa da revolução. Estas organizações inspiradas nos modelos soviético e chinês, tinham basicamente poder de vida e de morte em Cuba.
Quanto mais os EUA tomavam medidas de isolamento e retaliação comercial contra Cuba, mais o governo revolucionário procurava dinamizar e ampliar as suas relações internacionais, inclusive com os países de orientação socialista. Na mesma proporção que o governo revolucionário se expandia no processo, os norte-americanos, as oligarquias locais e a burgueria cubana realizavam manobras para salvar suas propriedades, investimentos, direitos e garantias.
Após a supressão das cotas de açúcar por parte dos Estados Unidos, o presidente Eisenhower rompeu relações com Cuba, patrocinou diversos grupos contra-revolucionários em diferentes partes da ilha. Além disso, a CIA treinou diversos cubanos que fugiram para os EUA, a fim de levá-los a uma invasão a Cuba e retomar o poder. Uma brigada de cubanos oriundos dos Estados Unidos invadiu a Playa Girón, ha 17 de Abril de 1961, porém a reação popular e os militares derrotaram os invasores cubanos. No enterro das vítimas do ataque, Fidel Castro aproveitou o momento de grande comoção e declarou as suas reais intenções de levar o país para o socialismo.
Em Outubro de 1962, os EUA descobriram a instação de bases ou rampas de lançamentos de mísseis voltadas para o seu território. Neste episódio que foi batizado de "Crise dos Mísseis", ficou claro que se tratava de um enfrentamento direto entre as duas grandes potências promotoras da "Guerra Fria" - Estados Unidos e União das Repúblicas Socialistas Soviéticas. Os norte-americanos, sob o comando do presidente John Kennedy, deram um ultimato à URSS, que sob o comando de Nikita Kruschev, retirarou os mísseis e desfez as rampas de lançamento. Mesmo após a retirada dos mísseis, e com base no Plano Mangosta, os EUA não descartaram a possibilidade de uma invasão militar à Ilha.
Após todos estes fatos, os Estados Unidos conseguiram expulsar Cuba da OEA - Organização dos Estados Americanos - e estabeleceram um bloqueio econômico a Ilha que perdura até o dia de hoje, mesmo depois de o Conselho de Segurança da ONU ter exigido três vezes o fim do bloqueio, por ampla maioria de votos. Exceção feita ao México, todos os demais países latino-americanos romperam relações com Cuba.
Nestas condições, o governo revolucionário cubano procurava ampliar suas relações com o grupo de "Países Não-Alinhados" e com outras nações do "Terceiro Mundo". Também, Cuba buscou apoio militar e comercial na ex-URSS e outros países socialistas.
Fica claro até este ponto, que, o pano de fundo deste momento histórico era a "Guerra Fria" e que, aos Estados Unidos era inconcebível a ampliação da ação político-ideológica do socialismo soviético ou chinês no continente americano. Considerações e posturas ieológicas àparte, mas tanto os revolucionários, como os grupos oligárquicos, latifundiários, empresários cubanos e investidores norte-americanos, estavam lutando, uns para chegar ao poder e estabelecer uma nova ideologia e outros para não perder seus bens e riquezas.
Não adianta discutir o mérito de revolucionários explorados e burgueses exploradores, todos querem acima de qualquer ideologia, o poder, e o poder que o poder lhes proporciona.

sexta-feira, 25 de janeiro de 2008

Cuba, A Ilusão da Utopia ou A Utopia da Ilusão I ?

No final dos anos 50, o sonho de muitos jovens latino-americanos era implantar um sistema socioeconômico que corrigisse as injustiças geradas pelo processo histórico e distribuisse melhor a riqueza nacional e mundial. Tais estudantes foram imbuídos dos ideais assmilados das páginas dos livros de autores cuja hermenêutica era marxistas, influenciados pela poderosa URSS que, pela pregação de alguns bolchevistas - Lênin, Stálin e Trotsky - implantou um sistema planificado da produção e pelo sucesso da revolução de esquerda já consolidada por Mao Tse Tung em 1949, na China.
Ernesto Rafael Guevara de la Serna, o Che, um jovem médico argentino cujo histórico de vida era um tanto conturbado por grandes dificuldades colocou o sonho de libertação e autodeterminação dos povos oprimidos acima dos ideais da sua profissão, resolveu apoiar um grupo de jovens estudantes cubanos liderados por Fidel Alejandro Castro Ruz, Camillo Cienfuegos, entre outros.
O Movimento 26 de Julho, recebeu este nome, porque nesta data houve o ataque aos quartéis de Moncada em Santiago de Cuba e Carlos Manuel de Céspedes em Bayamo, no ano de 1953. Os revolucionários foram derrotados e centenas deles mortos em combate ou executados. Fidel Castro e outros líderes foram julgados e condenados a prisão. Também foi criado o Grêmio Revolucionário formado pelos mais ardentes e combativos estudantes universitários.
Um grupo de oficiais militares aquartelados no Acampamento Militar de Columbia - José Ramón Fernandez, José Orihuela, Enrique Borbonet, Ramón Barquín, Manuel Varela Castro, entre outros - na Fortaleza da Cabana e nos Colégios Militares. Tais oficiais se rebelaram e conspiravam contra a política acéfala do presidente Fulgêncio Batista, exigindo melhorias no processo de formação e profissionalização dos militares. Uma denúncia levou a prisão de todos os conspiradores e ao aborto dos seus planos revoltosos.
Também houve o ataque ao quartel de Domingo Goicuría em 29 de Abril de 1956. Eram cerca de 50 combatentes da Organização Autêntica liderada por Reinold García. Depois constatou-se que eram esperados, visto que, 17 combatentes foram mortos, nenhum ferido e, do lado dos militares, nehuma morte e nenhum ferido. Após este ataque o governo recrudeceu contra os movimentos revoltosos, levando Fidel Castro se retirar para o México, de onde planejava uma nova investida mais eficiente e mais organizada.
Fidel Castro organizou a Expedição Libertadora e, há 2 de Dezembro de 1956, retornou a Cuba a bordo do Yate Granma, desembarcando nas Províncias Coloradas Orientais. Após muitos reveses, Fidel Castro e alguns poucos combatentes conseguiram conquistar um território em Sierra Maestra ao sul da ilha. Ali Fidel construiu o núcleo basilar de um exército rebelde. Um mês depois Fidel Castro atacou o quartel de La Plata com sucesso.
Enquanto Fidel Castro combatia nas montanhas em diversas ações, o comandante José Antonio Echeverría - Presidente da Federação Estudantil Universitária - e seus comandados atacavam o palácio presidencial em Havana, a capital. Fracassaram neste ataque e o comandante Echeverría morreu. Em diversas cidades muitas ações de sabotagem, pilhagem e atentados apenas contribuíam para o recrudecimento da ação governamental com execuções, prisões e torturas.
No final de 1957, o Exército Rebelde já se achava fortalecido em Sierra Maetra com duas colunas revolucionárias de combatentes. No início de 1958, os revolucionários deram início a uma greve geral com grande força, após tentativas fracassadas de ataques das tropas governamentais a Sierra Maestra. Embora Fidel Castro tenha criado duas novas colunas lideradas, respectivamente, por seu irmão, Raul Castro e por Juan Almeida, a fim de aumentar o controle em outras áreas montanhosas, a greve geral fracassou.
O presidente Fulgêncio Batista aproveita o enfraquecimento da guerrilha para promover um grande ataque a Sierra Maestra com 10.000 homens. Apesar do ataque, as guerrilhas conseguiram derrotar as tropas do governo, obrigando-as a bater em retirada. Neste cenário, Fidel Castro investe contra Guisa, Che Guevara e Camilo Cienfuegos controlam Lãs Villas, Raul Castro e Juan Almeida conquistam Santiago de Cuba.
A 1º de Janeiro de 1959, o presidente Fulgêncio Batista abandonou o país. A embaixada norte-americana, tentou, ainda, uma nova manobra, apoiando a criação de uma Junta Cívico-Militar, sob o comando do general Eulogio Cantillo. Fidel ordenou os revolucionários de Santiago de Cuba a se renderem, mas convoca uma greve geral que paralisa o país. Estas ações acabaram por consolidar a Revolução Cubana.

Arnaldo Jabour e a Ideologia do Não

No Jornal da Globo de 25 de Janeiro de 2008, o jornalista Arnaldo Jabour presenteou o público noctâmbulo com uma rara pérola. Refiro-me à crônica diária, a qual versava acerca do primeiro dia de audiência forense sobre o caso midiaticamente chamado de "Mensalão". Naquela crônica, o celebrado jornalista, como soe acontece aos bons comunicadores, alertou os telespectadores sobre a ideologia do "não" como instrumento da dissimulação.
Para ele, no que também concordo, a esquerda bolchevista desenvolveu com grande perícia a ideologia do "não". Eles conseguem dizer tantas vezes "não" que, ao final, até os mesmos ficam em dúvidas se fizeram ou não algumas coisas.
A abordagem de Jabour foi desenvolvida em torno do fato de que, no governo que aí está, há uma profunda e meticulosa capacidade de dizer "não" a qualquer acusação ou pergunta. O importante é sempre negar, porque, contando com o fator tempo, com a curta memória do povo e com a impecável capacidade de dizer "não" sem mover um músulo do rosto, os "casos" vão caindo no esquecimento. Com o tempo e tantos "nãos", cada cidadão se convence de que estava mesmo era louco e que não aconteceu nada do que imaginava, na verade, trata-se apenas da síndrome da conspiração e da velha mania de ver improbidade em tudo e em todos os servidores do Estado.
A ideologia do "não", aliada ao tempo e à acefalia cotribui para levar todos os descalábrios para a terra do nunca. Assim, a cada afirmação ou interrogação sobre qualquer suspeita de violação dos princípios constitucionais e das normas que lhes são subseqüentes, corresponde um elegante, suave e irremovível "não".
O cronista global usa de uma metáfora, esta tão batida e rebatida figura utilizada pela esquerda e pela direita: supondo que um ladrão seja apanhado roubando uma galinha e, questionado se está roubando a indefesa ave, ele responde, não! O interlocutor diz: mas, o senhor está com a galinha debaixo do braço! Ele, afirma categoricamente: não! Estou apenas levando a galinha par passear.
Por símile, o servidor público ou o político profissional que, apanhado em desvios, negociatas e improbidades, quando interpelado, diz: não! Eu não estou robando, o dinheiro está apenas sendo levado por mim e passado adiate. E ajunta: na verdade eu nem estou aqui!
Quisera Deus fossem alguns políticos e servidores apenas roubadores de galinahs... No máximo seriam associados às raposas felpudas que, apanham as galinhas só para saciar a sua fome natural. É da natureza das raposas se alimentar das galinhas. Por isso, em "O Pequeno Príncipe", Saint Exuperry mostra no capítulo XXI, que não era possível haver amizade entre homens e raposas, porque os seus interesses e objetivos eram opostos. De sorte que, as raposas apanhavam as galinhas, enquanto os homens caçavam e matava as raposas. A raposa diz ao menino príncipe, que era necessário criar os laços, isto é, o nobre menino deveria domesticá-la primeiro.
Aplicando o prinípio do livro de Exuperry ao caso do "Mensalão" conclui-se que os homens colocaram as raposas nos galinheiros a fim de apascentarem as galinhas, cevá-ls, engordando-as até ficarem no ponto de serem roubadas.
Tudo passa sobre a face da Terra...
É preciso voltar à ideologia do sim. É necessário expulsar as raposas dos galinheiros antes que elas neguem até que são raposas. As raposas devem passar por um programa de reeducação a fim de aprenderem a dizer "sim" a toda indagação que lhes acuse de ter visto, ouvido e falado sobre roubos de galinhas.

sábado, 19 de janeiro de 2008

Não É: "Deus, Um Delírio", Mas, O Delírio de Deus...

Richard Dawkins é o autor do já celebrado e best seller "Deus, Um Delírio". Este homem possui um dos mais elevados perfis no campo da ciência biológica e da filosofia. Assim se descreve o seu brilho e o seu brilhantismo: "num tempo de guerras e ataques terroristas com motivações religiosas, o movimento pró-ateísmo ganha força no mundo todo. E seu líder é o respeitado biólogo Richard Dawkins, eleito recentemente um dos três intelectuais mais importantes do mundo (junto com Umberto Eco e Noam Chomsky) pela revista inglesa Prospect. Autor de vários clássicos nas áreas de ciência e filosofia, ele sempre atestou a irracionalidade de acreditar em Deus, e os terríveis danos que a crença já causou à sociedade."
Este é de fato o perfil do homem natural que, sem perspectiva de ver da mera letra além, se decepciona quando não consegue ver Deus, ou se deprime ao olhar para dentro de si mesmo no espelho do teatro individual. Para suprimir Deus, busca ilustrar-se ao máximo e, uma vez, iluminado com luz própria, enuncia aquilo que a sua mente pode alcançar e concluir à luz de si mesmo. Mas, se a luz que há no homem são trevas, quão grandes são as suas trevas. Visto que, para o homem natural, Deus não é, e, muito menos, existe, restando-lhe, assim, afirmar o pró-ateismo. Entretanto, tal assertiva é paradoxal, para não dizer incoerente, uma vez que se afirma o que não é, e que não existe. Não há necessidade de afirmação ou negação daquilo que não é, e que não existe.
Não é Deus um delírio dos religiosos. O delírio é o próprio religioso que tenta criar um Deus à sua imagem e semelhança. Deus nada tem a ver com a religião e, por conseqüência, com o religioso. Este é sujeito daquela, logo, aquela não existe sem este, sendo ele o seu sujeito, obrigatoriamente aquela é o seu objeto. Não se pode tomar religião por verdade, mas apenas como a verdade relativizada ao homem. A verdade não é um conceito, não é uma doutrina, não é uma concepção filosófica. A verdade é uma pessoa, a saber, o próprio Deus.
A religião se define como sendo uma propositura delirante do homem em direção a um Deus que, no seu eterno delírio de amor e justiça, resolveu buscar o vaso que se havia quebrado nas mãos do oleiro. A religião parte do relativo ao absoluto, mas a verdade parte do absoluto ao relativo. Isto faz grande diferença na medida em que, o delírio do homem não pode mudar o Deus que delira em graça abrindo mão da sua soberania de, inclusive, nada fazer pelo homem. Quando alguém se debruçar sobre a tarefa de compreender o que é soberania saberá, entre outras coisas, que Deus pode absolutamente tudo sem necessidade de consultar o homem.
Essencialmente, se pode afirmar, como Brennan Meaning afirma: "Deus não tem dignidade". É chocante à prima visio, todavia, o que se afirma, neste caso, é que Ele abre mão da Sua infinita dignidade, para buscar o homem indigno sem que este nada mereça. A questão toda se circunscreve ao fato de que o homem faz uma avaliação super-faturada de si mesmo e julga poder controlar Deus.
É de Phillip Yancey a definição de misericórdia, como sendo Deus não dando ao homem o que de fato este merece, isto é, o inferno. Já a sua definição de graça é Deus fzendo tudo por quem nada merece. Assim, a ação de Deus é sempre monérgica e independente, posto que a soberania Lhe confere total e plena autonomia para fazer, ou deixar de fazer qualquer coisa.
Invariavelmente vivemos um tempo de muitas falácias e pouca profundidade até mesmo para negar Deus.

sexta-feira, 18 de janeiro de 2008

Tempus Fugit

O tempo é uma categoria que, em sua significação e natureza, muito pressiona e impressiona o homem. Em seu desenvolvimento não se deixa apanhar por quaisquer mentes, entes e sujeitos. É um vetor que ultrapassa a capacidade relativizada do homem e dos seus postulados. Não há um enunciado capaz de reter, conter ou deter o tempo. Há categorias de tempos, apenas para o efeito de reaciocínio, posto a debilidade na forma e na extensão do que se concebe como raciocínio. Há o tempo 'kronos', o qual se relaciona ao movimento. Neste sentido se admitem o tempo passado cuja existência não mais se percebe, salvo na subjetividade das lembranças embaçadas pela degenerescência dos neurônios; adminte-se ainda o tempo presente cuja efemeridade é instantânea; e, finalmente admite-se o tempo futuro cuja forma e essência ainda é desconhecida.A outra categoria é o tempo 'kairos', qual seja, o tempo específico e exato em que um evento acontece. Neste sentido, os fatos que se sucedem ao longo do tempo cronológico, nada mais são que a sucessão de tempos específicos.Com muita propriedade Clarisse Lispector afirma: "vou captar o instante já, que de tão fugidio não é mais. Cada coisa tem o instante em que ela é. Eu quero apoderar-me do é da coisa, mas ainda tenho um pouco de medo, pois o próximo instante é desconhecido."No texto sagrado, quando se refere ao tempo antes dos tempos eternos nos remete a uma dimensão fora da esfera do nosso alcance. Imaginar o tempo, é por si só, um exercício de extremas exigêcias, quanto mais imaginá-lo antes da própria eternidade.
O tempo é implacável com as coisas e com os homens, de sorte que, todas as coisas e seres já nascem perecendo. A degenerescência é constante em meio a tantas variáveis. A flor que ora viçosa aqui, alhures murcha, seca e cai. O Sol que se levanta lançando suas primeiras lanças douradas, esvaecido se põe ao entardecer. A onda que, bravia se levanta em médio mar, se quebra e se arrasta até ser engolida pela areia.
Assim, o tempo não perdoa, mata lentamente.