sexta-feira, 15 de outubro de 2010

Palavras e Acepções III

Entre vocábulos e termos, conotações e denotações a palavra se faz dita e dizente por ofício da comunicação. O discurso pleno de conteúdo, ou mesmo vazio deste, dá a diferença entre esta, e aquela palavra e suas possíveis acepções. Ressente-se, no entanto, de palavras que sejam, de fato, as mensageiras do pensamento, e que estes sejam fieis, tanto ao que faz uso delas, como também, aos que as ouvem. O processo comunicativo entre humanos é muito simples: consiste em um emissor, um código, e um receptor. Aquele é o que fala, este se refere a linguagem utilizada, e este outro é o que ouve. Cada um cumpre a sua função, e, entre fonemas e grafemas, termos e vocábulos, se dá o milagre da ideia comunicada.
Há um fenômeno recorrente na figura do político brasileiro, especialmente, o das novas gerações. Ele é por excelência, um ser mimético, a saber, um ser que possui imenso talento para imitar. Sendo o mimetismo, por extensão de sentido, um atributo do ser que se ajusta a uma nova situação, portanto, se passa por diferentes adaptações a fim de permanecer. O mímico político, ser anacrônico, transita de situação em situação, de plataforma em plataforma, de interesse em interesse, em conformidade com o ganho que possa disso obter. Neste sentido, o político brasileiro é por excelência, e por natureza um ser mimético. Muda de lado e de ideologia sem o menor senso de escrúpulo. Em tese, as meretrizes são mais seletivas que eles, posto que as tais não necessitam enganar a ninguém. São assumidas, porque não têm nada a perder, e muito pouco a ganhar.
Há três tipos básicos de mimetismo na natureza de acordo com a função do ser mímico: a) mimetismo defensivo, o qual, pretende dissuadir os predadores, podendo um mímico inofensivo se mimetizar de uma espécie perigosa; b) o mimetismo agressivo, tendo por objetivo a presa do mímico, ou seja, tomam forma de um ser inofensivo para apanhar de surpresa uma espécie da qual se alimenta; c) o mimetismo reprodutivo, a saber, aqueles que tomam as feições de uma outra espécie da qual possa obter alguma vantagem copular. Estes processos estão inserido nos termos da camada ótica. Há, todavia, outros mimetismos ligados à camada auricular, quando um ser mímico emite sons semelhantes ao de outro ser perigoso a fim de espantar possíveis predadores. É o caso do cuco, que imita o falcão visando afugentar aves que predam os seus ovos.
Assim, pode-se entender por mímico o ser que adota características semelhantes ao de outros seres. O mimentismo não deve ser confundido com a camuflagem, porque, enquanto o aquele busca assemelhar-se a outros seres, nesta, os seres buscam assemelhar-se ao meio em que se acham por algum tempo, dificultando a sua detecção por outros seres predadores.
No cenário político nacional se vê constantemente muitos seres mímicos, alguns seres predadores, e outros, ainda, seres camuflados. Os mímicos são aqueles que, na iminência de perder a confiança das suas presas úteis, mudam de postura corporal, penteado, indumentária, religião, cardápio, opinião et coetera. Eles passam décadas jurando destruir determinadas coisas, tais como: o capitalismo, os Estados Unidos da América, o FMI, a propriedade privada. Insuflam os faltos de instrução e consciência política, atribuindo às suas mazelas sempre aos outros. Entretanto, quando chegam ao poder e experimentam os seus prazeres, vislumbrando o quanto podem amealhar riquezas com o exercício da governança, mudam. Mimetizam-se rapidamente, porém mantendo o discurso que os levou ao poder. Discursam contra supostas elites que, na verdade, os apoiam. Na mente mímica deles, é sempre interessante manter o conflito de classes, porque isto justifica, tanto a sua perpetuação no poder, como a permanente promessa de uma sociedade mais justa. Eles passam de mímicos agressivos a mímicos defensivos, e, por vezes, a mímicos reprodutivos, podendo em muitos aspectos e circunstâncias, se camuflarem para sobreviver aos longos períodos de latência política.
Vê-se nestes tempos de militância, grandes mímicos pululando de galho em galho, visando encontrar uma maneira de permanecer no poder. Em dado momento concordam e propõem um PLC, o qual pretende oficializar o aborto, as uniões estáveis entre pessoas do mesmo sexo, etc. Quando os índices de aprovação da opinião pública, traduzidos em intenções de votos se mostram decadentes, eles se mimetizam de santos, religiosos, a favor da vida, etc. Negam as antigas amizades coloridas e estúpidas que ainda sonham levar a América Latina a uma espécie de socialismo terceiromundista, o qual o mundo já testou e detestou.
"Nunca na história deste país" se viu tantos mímicos, mimetizados, e camuflados...

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