segunda-feira, 4 de outubro de 2010

Palavras e Acepções I

Alguém afirmou alhures que "as palavras são as mensageiras do pensamento", como confirmava o sábio e prudente Rev. Eber Vasconcelos. Entretanto, a percepção que se tem, de fato, é que as palavras nos dias que transcorrem se prestam mais ao propósito de omitir, ou mesmo encobrir o real pensamento daquele que fala. O uso das palavras está condicionado a acepção que se pretende dar a elas, nos respectivos textos, nos devidos contextos, e, por vezes, a grotescos pretextos.
Na língua pátria vernacular a palavra 'palavra' provém do latim 'parabola', que, por sua vez, provém do grego 'parabolé', sendo, portanto, definida como o conjunto de letras ou sons associados a uma ideia. A palavra se constitui em uma unidade da linguagem humana. Quando se refere à palavra com um conjunto de letras, diz-se que é um grafema; quando se refere à palavra como um conjunto de sons, diz-se que é um fonema. Em ambos os aspectos, o referencial é a representação material da palavra, e, a ela, dá-se o nome de vocábulo. Quando se refere à palavra como índice da ideia a que ela representa, diz-se que é o aspecto interno, ou a representação imaterial da palavra, neste caso, ela é o termo. Portanto deve-se explicar sempre muito bem o termo, e não explicar bem o vocábulo. Igualmente, o correto é pronunciar bem o vocábulo, e não pronunciar bem o termo.
Acepção é um substantivo feminino que representa o sentido em que uma palavra, ou uma expressão pode tomar. É, portanto, a interpretação, a hermenêutica, ou mesmo, a sua significação. Na fraseologia comum a acepção indica uma tendência, ou uma ideologia do que fala em relação ao que ouve, a partir do que, ou de quem se fala. Assim, quando se diz da acepção de pessoas, fala-se, na verdade, de uma determinada predileção por alguém, escolha, tendência, e inclinação em favor de alguém, ou alguma coisa. Isto pode estar condicionado à classe social, a privilégios, e aos títulos desta pessoa. Ainda pode estar condicionado ao grau de importância do objeto de que se fala por seus atributos, benefícios e vantagens. A acepção induz a um sentido literal, ou figurado, dependendo do contexto.
Destarte, e, com longa margem de segurança pode-se afirmar que 'nunca na história deste país' se utilizou tanto, por tantas vezes, e em tantos pleitos da palavra para enganar, mentir, ludibriar, aviltar, insultar e engambelar tantas pessoas ao mesmo tempo, por todo o tempo. Descobriu-se o uso abusivo dos vocábulos, disfarçados grosseramente em termos nas acepções convenientes para se dizer o que quer, e ainda assim, se colocar na condição de vítima inocente o que fala, e na condição de inocente útil, o que ouve. Virou hábito dizer grosserias como se metáfora fosse, e dizer amabilidades como se acepção literal fosse.
Há aquelas palavras mágicas que encantam os ouvintes, como quem encanta serpentes. Basta a pronúncia de meia dúzia destas mágicas palavras, contextualizadas, ou não, que a mais célebre das platéias se cala. Todos, doutos, ou indoutos, silenciam-se por temer a exposição a uma oposição ostensiva e sofrer retaliações em seus campos de lutas. Ninguém quer se expor, mesmo quando o enunciado é estúpido e infiel aos princípios. Trocou-se a fidelidade, pela praxis do politicamente correto, pela qual todos os protocolos são quebrados. Com isto, alimentam uma súcia de mimetizados e uma horda de mimados esquerdofrênicos que não suportam ouvir o que não querem, mas adoram dizer o que querem aos 'miquinhos amestrados' da falsa intelectualidade, da imprensa venável e dos 'limitados domesticados' pela política do 'panis et circensis'.
E viva o circo com suas focas amestradas!

Nenhum comentário: