domingo, 27 de janeiro de 2008

Cuba, A Ilusão da Utopia, ou a Utopia da Ilusão III?

Neste terceiro artigo serão analisados alguns fatos e aspectos da realidade de Cuba, tanto nos anos de apadrinhamento da ex-URSS, como nos anos posteriores ao fim do bloco socialista.
A revista Época de 21 de Janeiro de 2008, em suas páginas 74 a 83, trouxe uma reportagem que muito elucida a realidade da ilha de Fidel. A manchete de capa da referida revista diz: "Cuba, o sonho dos revolucionários, o pesadelo da vida real - e o futuro que aguarda os cubanos." O jornalista Ricardo Amaral abre a sua reportagem, perguntando: "Uma outra ilha é possível?" Sim, é! Porém, o sistema precisa ser substituído e a ditadura obsoleta precisa ser removida.
A verdade é que após 50 anos da revolução socialista de Fidel Castro, o país ainda não saiu do "terceiro mundo", a pobreza não foi erradicada, a prostituição profissionalizada continua, o contrabando é comum e cubanos sonham com a liberdade e o dia em que poderão ter acesso à modernidade. Ainda ocorre forte censura e o Estado é tipicamente ditatorial. Não foi por acaso que o escritor Antonio Saramago, rompeu o seu apoio à ditadura cubana após a execução de cubanos desertores há uns 3 anos atrás.
Estive em Cuba em meados dos anos 90, e o que vi não foi um paraíso. Vi cubanos entrincheirados em uma ilha de aproximadamente 110.000 km/2, comprando menos do mínimo necessário em armazéns estatais chamados "las bodeguitas". Utilizam uma caderneta onde cada coisa é anotada, pois há quantidades fixadas para cada produto e para cada consumidor. Vi cubanos não podendo ter acesso às praias destinadas aos turistas, às lojas do denominado "intur", aos hotéis e restaurantes. O motorista do microônibus que nos levou a cidade balneário de Varadero, recebia as gorjetas desajeitado e temeroso de que seus superiores o apanhassem recebendo a "propina". Solicitou que comprasse para ele, na loja do intur, um tênis e um chinelo. O tênis corresponderia ao antigo conga usado no Brasil, nos anos 70; o chinelo corresponde às havaianas ainda hoje usadas no Brasil, porém bastante inferior. Quando recebeu as mercadorias muito desconfiado, olhando sempre para os lados, abria a sacola a cada cinco minutos e olhava os produtos com brilho nos olhos. Eram para seus filhos adolescentes e ele gastou cerca de US 4,00 dólares americanos ganhados ilegalmente conforme o sistema oficial de Cuba. Lá o turista entra com dólares americanos, mas é obrigado a trocá-los por uma moeda local só para turistas, denominada de CUC que vale US 0,80 do dólar.
Cidadãos comuns em Cuba gostam muito de conversar com turistas pelas ruas a fim de contar ou "resolver" (negociar) coisas. Um destes, interpelou-me no centro de Havana, para contar que eles não comiam qualquer tipo de carne há uns dois anos e meio, e que tudo era vigiado e controlado com muito rigor. Outro, em Varadero, um garçon, contou-me que tinha uma filha de 7 anos morando em Miami com a mãe, a qual não conhecia. Tentou o visto de saída da ilha por três vezes, sendo-lhe negado pelo governo. Contou dos inúmeros casos de tentativa de fuga em botes feitos com câmara de pneus de carro. Muitos morrem de insolação, de sede, comidos por tubarões, ou são repatriados pela guarda costeira e tratados como desertores e traidores da revolução.
Os cubanos que trabalham no circuito turístico são altamente privilegiados, pois têm acesso pelo menos à comida de boa qualidade, às informações pela televisão a cabo e não-estatal. Nesta última só se veicula aquilo que é do interesse do governo, ou seja, informações manipuladas. Percebi no saguão do Hotel Rivera em Havana, que os faxineiros esfregavam o mesmo lugar do chão ou limpavam o mesmo vidro da mesinha de centro por incontáveis minutos. Isto para ficar de olhos atentos nos noticiários vindos do mundo exterior. Esta é a única maneira de ficar sabendo das notícias fora da ilha e de repassá-las aos familiares e amigos.
Ao visitar livrarias e andar pelas ruas, vi que 80% dos livros são críticas aos Estados Unidos como país ou ao presidente que estiver em exercício, não importa quem. A cada quinze passos que se anda pelas ruas, percebem-se desenhos caricatos ou grafites de crítica aos EUA e seus dirigentes. Em diversos pontos da cidade de Havana e em outras cidades do interior há um sem número de cartazes, frases, pichações e estátuas de exaltação a Fidel Castro, ou aos ideais da revolução. Se vê claramente que aquilo não é uma manifestação espontânea do povo, mas uma propaganda sistematizada e desesperada do governo para desviar a atenção do povo. Criticar e incitar o povo contra os Estados Unidos, seja por causa do bloqueio econômico, seja por razões históricas é um mero instrumento de estravazamento da ira popular pela miséria, opressão e pobreza em que vivem. É uma das estratégias de Fidel para se manter no poder.
Visitei três escolas. Em uma delas, o teto estava escorado com tábuas e esteios de madeira, em outra os alunos estavam em enorme balbúrdia, enquanto a diretora e as professoras olhavam um album de família de alguém da escola. Esa mesma diretora, entre tantos discursos cheios de arrogância e exaltação ao seu país, disse-me: "¿Los Estados Unidos? Si nosotros quisiéramos, nosotros los destruiríamos con un soplo." Eu fiquei imaginando, em silêncio, aquela afirmação com um ar de piedade, pois não me restava outra alternativa. Pensei, se os EUA sobrevoassem esta ilha com 6 caças Mig 29, não sobraria absolutamente nada no país. Mas, quando estamos em terra estranha, devemos apenas ouvir e meditar sobre o que ouvimos.
É verdade que a educação é gratuita e para todos e, que, também não há analfabetos em Cuba. Hoje é o país com mais alto índice de portadores de curso superior com especialização, porém não há trabalho para eles. Todavia, também é verdade que é muito mai fácil e viável alfabetizar uma ilha de 110.000 km², com uma população aproximada de 11.000.000 de habitantes espalhados em 14 províncias. Se após 50 anos no poder, o sistema socialista que se propunha resolver todos os dilemas de Cuba e do mundo, não tivesse pelo menos alfabetizado todos, não valeria a pena ter morrido tanta gente. O sistema de saúde tão elogiado no Brasil e em alguns lugares do mundo funciona assim: o médico é um indivíduo privilegiado, pois pode residir em uma casa sozinho. Geralmente é um sobrado, ele mora na parte de cima e a parte de baixo é um ambulatório ou consultório. Ele atende a uma freguesia pré-definida nas vizinhanças. Acompanha desde o nascimento até a morte os seus pascientes. Ao consultar os seus pascientes, verificada a necessidade de exames mais acurados, os envia ao policlínico do bairro. Se, no policlínico, os médicos verificarem que a necessidade do pasciente é maior, enviam-no ao hospital. Enquanto projeto é muto interessante, porém as filas são quilométricas, não há todos os remédios para todos e, portanto, nem todos são bem atendidos. Se alguém tem dúvidas disso, pode perguntar a diversos médicos cubanos que vieram para o Brasil trabalhar em algumas administrações esquerdistas, em certos municípios, dentre estes, destaco Paracatu em Minas Gerais.
É verdade ainda que alcançaram grande sucesso no desenvolvimento de algumas drogas como por exemplo, na área de geriatria, vitiligo e controle de doenças tropicais. Mas, é verdade também que hoje o governo não está conseguindo manter todos os serviços a todos os cidadãos com excelência de qualidade como se propala por aí. No Brasil é muito comum intelectualóides de esquerda assentarem nos bares e botecos para elogiar Cuba enquanto degustam a gelada e os tira-gostos, mas não querem ir morar lá. E, quando vão passear, frequentam apenas os circuitos e cenários montados para iludir turistas e intelectuais de esquerda.
A questão é muito simples de ser entendida: Cuba conseguiu muitas vitórias sociais e programas eficientes, apenas enquanto a ex-URSS a financiava com dinheiro, mentirosamente chamado de ajuda humanitária; com petróleo barganhado por açúcar, tabaco e frutas tropicais, além de apoio e assessoria militar. Durante a "guerra fria" a ex-URSS contratava milhares de soldados cubanos para fomentar guerras e guerrilhas na África e Ásia. Isto tudo tinha um custo e um alto preço pago ao governo de Cuba em troca de propagar o socialismo no continente americano. Porém, quando acabou o bloco socialista, a URSS foi desmantelada e a globalização se acelerou, Cuba caiu numa espécie de "buraco negro". Não tem de onde tirar dinheiro para manter os programas sociais. Atualmente Hugo Chaves investe lá cerca de US$ 2 bilhões em petróleo. São cerca de 92.000 barris por dia. A China, embora importe e exporte para Cuba, tem os seus próprios e gigantescos problemas a serem resolvidos. Até o Lula prometeu recentemente investir cerca de US$1 bilhão de dólares na ilha, em solidariedde a Fidel.
Tive alguns alunos que foram para Cuba estudar medicina, mesmo sabendo que o diploma de lá não era reconhecido aqui. Um deles desistiu e, as razões foram, a espionagem em suas correspondências, o baixo nível do curso e a escassez de recursos para fazer um bom curso. Outra de Brasília fez o curso, porém esta fazendo uma complementação para poder exercer a profissão no Brasil.

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