sábado, 26 de janeiro de 2008

Cuba, A Ilusão da Utopia ou A Utopia da Ilusão II?

No primeiro artigo fez-se uma singela e sucinta imersão na história da Revolução Cubana. A partir de agora imergir-se-á um pouco mais, não apenas na história da denominada revolução, mas também nos seus efeitos e conseqüências.
Quando Fidel Castro foi submetido ao julgamento pelos ataques aos quartéis e por todas as ações guerrilheiras que dizimaram milhare de pessoas, ele, em sua defesa afirmou "la história me absolverá". Dizia ele isto como fundamentação à legitimidade dada pelo povo na luta contra o "estabelishment" ou o "status quo" instalado na ilha pelo governo de Fulgêncio Batista apoiado pelo capital internacional, especialmente pelos Estados Unidos.
Imediatamente após a vitória dos revolucionários, Fidel Castro pôs-se a desmantelar o sistema neocolonial, dissolveu os instrumentos de repressão, confiscou bens que julgou terem sido obtidos ilicitamente por dirigentes do regime anterior, os criminosos de guerra que serviram ao governo deposto foram julgados, condenados e exonerados. Destitui-se a direção do Movimento Operário, cassou e extinguiu os partidos políticos que haviam servido ao governo de Batista.
Nos primeiros momentos da revolução, Fidel Castro foi nomeado Primeiro-Ministro, o acesso às praias foi liberado ao povo, as companhias que monopolizavam os seviços públicos foram objeto de intervenção estatal e verificou-se a redução dos aluguéis.
Há 17 de Maio de 1959, foi decretada a Lei Agrária que, entre outras ações, acabava com os latifúndios, estatizava as terras em mãos de estrangeiros, as propriedades com mais de 420 hectares eram desapropriadas e as terras eram entregues a arrendatários e parceiristas.
Os Estados Unidos perderam muitos investimentos e explorações vantajosas em Cuba, por isso, procuravam alguma forma de reverter o movimento revolucionário. Em Outubro de 1959, um levante militar em Camagüey orquestrado por Herbert Matos, comandante deste posto foi abortado. Afirmava-se que Matos estava em associação a pessoas de caráter questionável, a latifundiários e outros elementos contra-revolucionários locais.
Diante de inúmeros atos de sabotagem e terrorismo contra a revolução, o governo criou milícias, comitês, federações e associações de jovens, levando, assim a uma mais ampla participação popular na defesa da revolução. Estas organizações inspiradas nos modelos soviético e chinês, tinham basicamente poder de vida e de morte em Cuba.
Quanto mais os EUA tomavam medidas de isolamento e retaliação comercial contra Cuba, mais o governo revolucionário procurava dinamizar e ampliar as suas relações internacionais, inclusive com os países de orientação socialista. Na mesma proporção que o governo revolucionário se expandia no processo, os norte-americanos, as oligarquias locais e a burgueria cubana realizavam manobras para salvar suas propriedades, investimentos, direitos e garantias.
Após a supressão das cotas de açúcar por parte dos Estados Unidos, o presidente Eisenhower rompeu relações com Cuba, patrocinou diversos grupos contra-revolucionários em diferentes partes da ilha. Além disso, a CIA treinou diversos cubanos que fugiram para os EUA, a fim de levá-los a uma invasão a Cuba e retomar o poder. Uma brigada de cubanos oriundos dos Estados Unidos invadiu a Playa Girón, ha 17 de Abril de 1961, porém a reação popular e os militares derrotaram os invasores cubanos. No enterro das vítimas do ataque, Fidel Castro aproveitou o momento de grande comoção e declarou as suas reais intenções de levar o país para o socialismo.
Em Outubro de 1962, os EUA descobriram a instação de bases ou rampas de lançamentos de mísseis voltadas para o seu território. Neste episódio que foi batizado de "Crise dos Mísseis", ficou claro que se tratava de um enfrentamento direto entre as duas grandes potências promotoras da "Guerra Fria" - Estados Unidos e União das Repúblicas Socialistas Soviéticas. Os norte-americanos, sob o comando do presidente John Kennedy, deram um ultimato à URSS, que sob o comando de Nikita Kruschev, retirarou os mísseis e desfez as rampas de lançamento. Mesmo após a retirada dos mísseis, e com base no Plano Mangosta, os EUA não descartaram a possibilidade de uma invasão militar à Ilha.
Após todos estes fatos, os Estados Unidos conseguiram expulsar Cuba da OEA - Organização dos Estados Americanos - e estabeleceram um bloqueio econômico a Ilha que perdura até o dia de hoje, mesmo depois de o Conselho de Segurança da ONU ter exigido três vezes o fim do bloqueio, por ampla maioria de votos. Exceção feita ao México, todos os demais países latino-americanos romperam relações com Cuba.
Nestas condições, o governo revolucionário cubano procurava ampliar suas relações com o grupo de "Países Não-Alinhados" e com outras nações do "Terceiro Mundo". Também, Cuba buscou apoio militar e comercial na ex-URSS e outros países socialistas.
Fica claro até este ponto, que, o pano de fundo deste momento histórico era a "Guerra Fria" e que, aos Estados Unidos era inconcebível a ampliação da ação político-ideológica do socialismo soviético ou chinês no continente americano. Considerações e posturas ieológicas àparte, mas tanto os revolucionários, como os grupos oligárquicos, latifundiários, empresários cubanos e investidores norte-americanos, estavam lutando, uns para chegar ao poder e estabelecer uma nova ideologia e outros para não perder seus bens e riquezas.
Não adianta discutir o mérito de revolucionários explorados e burgueses exploradores, todos querem acima de qualquer ideologia, o poder, e o poder que o poder lhes proporciona.

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