sexta-feira, 25 de janeiro de 2008

Arnaldo Jabour e a Ideologia do Não

No Jornal da Globo de 25 de Janeiro de 2008, o jornalista Arnaldo Jabour presenteou o público noctâmbulo com uma rara pérola. Refiro-me à crônica diária, a qual versava acerca do primeiro dia de audiência forense sobre o caso midiaticamente chamado de "Mensalão". Naquela crônica, o celebrado jornalista, como soe acontece aos bons comunicadores, alertou os telespectadores sobre a ideologia do "não" como instrumento da dissimulação.
Para ele, no que também concordo, a esquerda bolchevista desenvolveu com grande perícia a ideologia do "não". Eles conseguem dizer tantas vezes "não" que, ao final, até os mesmos ficam em dúvidas se fizeram ou não algumas coisas.
A abordagem de Jabour foi desenvolvida em torno do fato de que, no governo que aí está, há uma profunda e meticulosa capacidade de dizer "não" a qualquer acusação ou pergunta. O importante é sempre negar, porque, contando com o fator tempo, com a curta memória do povo e com a impecável capacidade de dizer "não" sem mover um músulo do rosto, os "casos" vão caindo no esquecimento. Com o tempo e tantos "nãos", cada cidadão se convence de que estava mesmo era louco e que não aconteceu nada do que imaginava, na verade, trata-se apenas da síndrome da conspiração e da velha mania de ver improbidade em tudo e em todos os servidores do Estado.
A ideologia do "não", aliada ao tempo e à acefalia cotribui para levar todos os descalábrios para a terra do nunca. Assim, a cada afirmação ou interrogação sobre qualquer suspeita de violação dos princípios constitucionais e das normas que lhes são subseqüentes, corresponde um elegante, suave e irremovível "não".
O cronista global usa de uma metáfora, esta tão batida e rebatida figura utilizada pela esquerda e pela direita: supondo que um ladrão seja apanhado roubando uma galinha e, questionado se está roubando a indefesa ave, ele responde, não! O interlocutor diz: mas, o senhor está com a galinha debaixo do braço! Ele, afirma categoricamente: não! Estou apenas levando a galinha par passear.
Por símile, o servidor público ou o político profissional que, apanhado em desvios, negociatas e improbidades, quando interpelado, diz: não! Eu não estou robando, o dinheiro está apenas sendo levado por mim e passado adiate. E ajunta: na verdade eu nem estou aqui!
Quisera Deus fossem alguns políticos e servidores apenas roubadores de galinahs... No máximo seriam associados às raposas felpudas que, apanham as galinhas só para saciar a sua fome natural. É da natureza das raposas se alimentar das galinhas. Por isso, em "O Pequeno Príncipe", Saint Exuperry mostra no capítulo XXI, que não era possível haver amizade entre homens e raposas, porque os seus interesses e objetivos eram opostos. De sorte que, as raposas apanhavam as galinhas, enquanto os homens caçavam e matava as raposas. A raposa diz ao menino príncipe, que era necessário criar os laços, isto é, o nobre menino deveria domesticá-la primeiro.
Aplicando o prinípio do livro de Exuperry ao caso do "Mensalão" conclui-se que os homens colocaram as raposas nos galinheiros a fim de apascentarem as galinhas, cevá-ls, engordando-as até ficarem no ponto de serem roubadas.
Tudo passa sobre a face da Terra...
É preciso voltar à ideologia do sim. É necessário expulsar as raposas dos galinheiros antes que elas neguem até que são raposas. As raposas devem passar por um programa de reeducação a fim de aprenderem a dizer "sim" a toda indagação que lhes acuse de ter visto, ouvido e falado sobre roubos de galinhas.

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